Em artigo anterior afirmei que cerca de seis mil postos formais de trabalho seriam perdidos na Feira de Santana neste amargo 2015. A estimativa – baseada em projeção linear simples, pouco mais sofisticada que um palpite –, pelo visto, será imprecisa, como sempre acontece em mensurações do gênero: até outubro, já tinham sido perdidos 5,8 mil vagas, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para ser preciso, o saldo foi negativo em exatas 5.815 vagas em dez meses. Isso faltando dois meses para o final do ano.
O grande drama é que, no curto prazo – considerando-se aí um horizonte de 12 meses – o cenário não vai melhorar. É o que preveem múltiplas instituições financeiras, respeitáveis organismos multilaterais e órgãos do próprio governo. Em 2016, o Produto Interno Bruto – PIB deve registrar nova retração, certamente superior a 2%. Somando-se aos mais de 3% de queda em 2015, conclui-se que a situação se desenha como catastrófica.
O quadro é ainda mais desfavorável porque em 2014 não houve crescimento econômico e as oportunidades de trabalho começaram a minguar, inclusive na Feira de Santana. Depois de anos de expansão robusta – que produziram uma agradável sensação de prosperidade para boa parte da população feirense – o saldo entre admissões e demissões foi negativo em precisos 714 empregos formais.
Quando se somam os dois anos, chega-se a impressionantes 6.529 empregos a menos. Mas isso em um intervalo pouco superior a 12 meses, já que a desaceleração começou no segundo semestre de 2014 e 2015 ainda não terminou. É, sem dúvida, o quadro mais dramático de desemprego e recessão na Feira de Santana, pelo menos nas últimas três décadas. Complicando tudo, houve a aceleração inflacionária, que acentuou a sensação de pobreza.
Construção Civil
Em textos anteriores apontamos que a crise afetou, sobretudo, os trabalhadores vinculados à construção civil. Essa tendência vem se mantendo ao longo do ano, embora a crise também tenha reduzido o número de empregos formais em outras áreas. Mas na construção civil o baque foi maior: houve o enxugamento de 1.234 vagas para servente de pedreiro e outras 798 para os pedreiros propriamente ditos, até outubro.
Noutras palavras, só na construção civil são mais de dois mil empregos que, simplesmente, deixaram de existir. O drama é que essa redução traz, embutida, um efeito multiplicador perverso: impacta negativamente sobre o comércio, sobre a prestação de serviços e sobre outras atividades que, potencialmente, tinham esses trabalhadores como seus hipotéticos clientes. Há não apenas a perda do emprego em si, mas a queda da rentabilidade de outros setores.
Mais dois setores perderam centenas de empregos e se destacam na conjuntura local da crise: os comerciários perderam 420 vagas no saldo líquido e os operadores de telemarketing ainda mais: 482 postos. Esses são, também, dois dos segmentos que mais demandam mão-de-obra no município.
Crise Política
A retomada do crescimento não depende apenas da reversão das expectativas negativas, conforme ocorre em ciclos econômicos convencionais: será necessário superar a infindável crise política para que o Brasil enxergue alguma perspectiva e retome o otimismo. Pensava-se que isso poderia acontecer em 2015 mas, pelo jeito, a expectativa vai ter que ser adiada, no mínimo, até o próximo ano.
Outro grande drama reside aí: 2016 é ano de eleição e, portanto, a temperatura política vai estar acima do habitual; torpedear o governo, hoje, é um grande negócio e, pelo que se percebe, será uma estratégia largamente utilizada nas eleições municipais. Restará, então, aguardar 2017 com resignada impaciência.
Mas, mesmo sendo assim, não existe trégua à vista: Dilma Rousseff estará ingressando no ocaso temporal dos seus dois mandatos e, a partir daí, pouca coisa se pode aguardar. Sob tamanhas turbulências, terá ela condições de recolocar a economia nos eixos? Só Deus sabe. Na oposição, ainda aposta-se no impeachment como contraveneno para abortar a prolongada apatia econômica.