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André Pomponet

A crise sob a ótica do mercado imobiliário

29 de Agosto de 2016 | 08h 47
A crise sob a ótica do mercado imobiliário

Ao longo do ano passado muita gente relutou em admitir que o Brasil começava a atravessar uma severa crise econômica, certamente a mais profunda em mais de um século. Alguns, por questões políticas: aceitar a recessão implicava em colocar-se na defensiva, depois de quase uma década da frenética pujança consumista legada pelo lulopetismo, que perdia o discurso a partir da debacle econômica. Outros mostraram-se arredios mais por questão de temperamento, de dificuldade em aceitar que o País ingressava em uma quadra dura, de desemprego elevado e de consumo declinante. São os otimistas incorrigíveis.

                Enquanto a recessão transitou pelo noticiário, com os esotéricos indicadores econômicos em gráficos indecifráveis, tudo bem: aquilo assemelhava-se aos incessantes debates estéreis que a imprensa teima em repisar, sem efeitos práticos. Pouco a pouco, porém, a crise foi migrando da retórica e dos indicadores para a vida real: muitos foram perdendo seus empregos, outros tantos viram seus negócios minguarem, impactando sobre a renda.

                Os primeiros sinais, sutis, começaram a ser percebidos aos poucos. As filas nos supermercados e nas padarias diminuíram, sobretudo nos horários de pico. Os insanos engarrafamentos foram encurtando, aporrinhando menos, sem nenhuma causamilagrosa: a queda na renda e a elevação no preço dos combustíveis forçaram muitos a manter seus veículos nas garagens, esvaziando as ruas.

                Bares e restaurantes foram perdendo clientes, porque as constantes incursões noturnas pesaram no orçamento. O valor da conta, que nos tempos de bonança não assustava, passou a ser destinado às necessidades mais urgentes. Com isso,a perversa espiral declinante eliminou muitos empregos no outrora promissor setor de serviços, que experimentava um boom inédito nas últimas décadas.

                Setor Imobiliário

                Nos últimos meses a crise passou a pontuar a paisagem sob uma outra perspectiva: a da imensa oferta de imóveis comerciais para venda ou aluguel. Há apenas uns poucos anos era difícil achar loja disponível ou mesmo uma sala no centro da Feira de Santana: os negócios prosperavam e muitos disputavam esses espaços com sofreguidão. Parecia que tudo aquilo que se punha à venda tinha demanda assegurada.

                Aos poucos, desde o ano passado, a situação foi mudando. Muitos empresários tentaram resistir, heroicamente, à falência: recorreram a promoções, enxugaram o que podiam, mas a profundidade e a extensão da crise impediram a continuidade de inúmeros negócios. Dessa forma, tristes queimas de estoque anunciavam, antecipadamente, mais uma baixa provocada pela crise.

                Com isso, placas e cartazes apelativos começaram a se espalhar pelo centro da cidade e adjacências, anunciando a venda ou o aluguel dos mais diversos imóveis comerciais.Com o tempo, muitos desses anúncios se desgastam, rasgam-se, denotando o esforço vão. Afinal, a recessão segue feroz, mordiscando trabalhadores e empresários. A grande imprensa, depois da deposição de Dilma Rousseff (PT), até tentaatenuar a situação, enxergando sinais de arrefecimento da crise, sem convencer.

                Otimista, o novo governo enxerga modesto crescimento do Produto Interno Bruto – PIB para o ano que vem, algo em torno de 1,2%. Muito pouco para as imensas necessidades do País, que mais uma vez viu se diluírem as vãs esperanças de um ciclo duradouro de crescimento. De qualquer forma, talvez a partir de 2017 comecem a se reduzir os incontáveis cartazes de “vende” e “aluga” que tornam deprimente a paisagem do centro comercial da Feira de Santana.



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