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Transporte coletivo: grave problema de mobilidade em Feira

Karoliny Dias - 14 de Dezembro de 2017 | 19h 20
Transporte coletivo: grave problema de mobilidade em Feira
A falta da mobilidade urbana é um grave problema, enfrentado, cotidianamente, pela população brasileira. Cada vez mais, os veículos individuais incham as ruas das grandes cidades. E o transporte coletivo, que deveria ser a solução para esse problema, tem sido o principal alvo de reclamações. Aqui, não é diferente. As queixas dos feirenses são diversas. Os usuários do serviço reclamam, principalmente, das precárias condições de acomodação nas paradas de ônibus; dos atrasos, provocados pela escassez de veículos; e da falta de acessibilidade.
 
A estudante de Pedagogia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Adriana Trindade, acha o sistema desorganizado. “Eles descumprem os horários. A frota é reduzida e não atende à demanda. Os pontos também não abrigam bem a população. Nos horários de pico, as paradas estão sempre lotadas, o que nos obriga a esperar debaixo do sol forte. E se chover, todo mundo se molha”, critica, salientando ainda que a passagem é cara em comparação ao valor cobrado em outras cidades, a exemplo de Salvador.
 
Adriana Trindade lembrou ainda que, na última greve realizada pelos rodoviários, a população ficou sem ônibus por um longo período. “Foram mais de 15 dias sem ônibus. E, em um deles, fiquei do lado de fora do Transbordo até mais de meia-noite, correndo risco de ser assaltada ou coisa pior. Nasci em Feira de Santana e nunca tinha visto acontecer um caos como aquele. Espero que não passemos mais por isso”, lamenta.
 
ACESSIBILIDADE - Renato Bispo Romão, presidente da União Baiana dos Cegos, foi enfático ao dizer que a maioria dos ônibus não é acessível. Segundo ele, as principais dificuldades para quem não tem visão é a falta de identificação apropriada nos coletivos e a insensibilidade dos motoristas. “Não enxergamos, mas eles passam e não nos avisam. Muitas vezes acenamos com a mão, pedindo para o veículo parar, mas os motoristas não param. Também enfrentamos o desconforto nos pontos. Não conseguimos sequer sentar nas paradas de ônibus. Outro problema é que não querem deixar a gente entrar pela frente, onde, por lei, os assentos devem ser reservados para portadores de necessidades especiais, idosos e gestantes”, denuncia. 
 
O presidente do órgão reconhece que há motoristas educados e prestativos, mas diz que estes não são a maioria. “Muitos não querem sequer dar uma informação. E não têm paciência de esperar as pessoas entrarem e sentarem. Se é difícil para quem não tem nenhum tipo de deficiência, imagine para quem tem. Aos motoristas que são educados, mando os nossos elogios”, enfatiza.
 
Renato Romão acredita que as próprias empresas são culpadas pela existência de tantos carros fazendo “ligeirinhos” na cidade, atividade que é ilegal. Para ele, se houvesse ônibus suficiente e bom tratamento, todos usariam o transporte coletivo. “Eles não dão assistência às pessoas, independente de serem deficientes ou não”, reclama. 
 
A idosa Gildete Silva de Abreu, moradora do bairro SIM, diz que utiliza diariamente o transporte coletivo. Ela ressalta que os ônibus estão sempre lotados, sobretuno no início da manhã e no fim da tarde. “Eles sempre atrasam e a passagem é cara, afinal as distâncias percorridas aqui na cidade não são tão grandes. Alguns ônibus até são bons, mas a maioria não. Infelizmente, parte disso é culpa dos próprios usuários, que não têm consciência e não se preocupam em zelar pelos veículos que eles próprios utilizam”, lastima. 
 
O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Feira de Santana (Sintrafs), José de Souza, enumera as dificuldades enfrentadas pela categoria: ausência de corredores de tráfego e crise econômica são os principais problemas, segundo ele. “Passamos por uma grave crise no sistema de transporte coletivo desde 2015, quando as empresas permissionárias que prestavam o serviço na cidade quebraram. E a Rosa e São João, empresas que atualmente operam o setor, vão pelo mesmo caminho”, prevê.
 
Para evitar o problema, José de Souza diz que é necessário tomar providências urgentes ou, mais uma vez, a população será penalizada. O sindicalista reclama ainda do trânsito desordenado e das rodovias, que, segundo ele, estão em péssimo estado, sobretudo nos distritos. Esses dois fatores, na sua avaliação, fazem com que os percursos sejam demorados. “Sempre conversamos com o secretário Municipal de Transportes e Trânsito, a fim de resolver esses problemas de mobilidade. Se tivéssemos corredores exclusivos para ônibus, seria bem mais fácil. Gastar mais de uma hora entre um bairro e o centro é ruim tanto para o usuário quanto para nós, trabalhadores”, pondera. 
 
Ainda segundo Souza, atualmente, 20% dos rodoviários tem problemas de saúde, físicos ou psicológicos. “São diversos os motivos: assaltos, agressões físicas, assédio. São situações muito ruins e que interferem no trabalho. Estamos tentando resolver, mas é complicado”, ressalta.
 
Ele ressalta que discutir os problemas que entravam o setor é urgente, a fim de se evitar outro colapso. “Se acontecer com a São João o mesmo que ocorreu com a Rosa, que teve todos os ônibus novos retirados de circulação e substituídos por veículos de 2012 e 2013, inclusive com placas de outros estados, a situação do transporte coletivo na cidade vai se agravar ainda mais”, previne.
 
Sobre a mais frequente queixa da população, relacionada à insuficiência da frota, o secretário municipal de Transportes e Trânsito, Saulo Pereira, afirma que o sistema supre a demanda. Ele ressalta ainda que, todas as quartas-feiras, o órgão se reúne com pelo menos duas comunidades. A intenção é ouvir as queixas e os anseios da população. “As principais reclamações são sobre segurança, atrasos e ônibus cheios. Desde agosto, estamos fazendo o reordenamento das linhas. Começamos com a bacia da Rua Macário Cerqueira, que tem cerca de sete linhas. Atualmente, já são oito bacias atendidas, que totalizam 48 linhas. A reorganização visa ofertar mais ônibus nos horários de pico, das 6 às 9 horas da manhã e das 16h30 às 20 horas. Com essa ação, estamos conseguindo oferecer mais vagas e os passageiros estão esperando menos nos pontos de ônibus”, comenta.
 
BRT - O representante do Sintrafs, José de Souza, disse que o sistema de Transporte Rápido por Ônibus (BRT), que já está sendo implantado pela prefeitura municipal, não será a solução para o transporte. Ele diz que, mesmo sem ser técnico na área, percebe que os maiores gargalos da cidade são os trechos Tomba - Centro e Sobradinho - Centro. “No centro da cidade, são poucos os passageiros e não dá para pagar o BRT. Isso não resolverá o problema. Porque não se resolve o gargalo do Tomba abrindo vias exclusivas para os veículos chegarem ao Centro? O BRT descarregará onde? Cadê os terminais centrais? É um sistema que não entendemos como atenderá os trabalhadores”, questiona.
 
Na opinião de Souza, o BRT deveria ter sido discutido com os rodoviários e com a população. “O projeto não podia ser elaborado por um engenheiro de outra cidade, que fez um projeto para enganar a todos. Os terminais que estão criando no meio dos canteiros das avenidas principais são absurdos. Quantos atropelamentos não poderão acontecer? É um erro. É melhor discutir mais esse BRT, senão pode virar um elefante branco”, critica.
 
Os usuários do sistema de transporte da cidade pensam da mesma forma. A estudante Adriana Trindade diz que o BRT não mudará muita coisa e que resultará em um investimento desnecessário. Em sua opinião, a verba poderia ter sido destinado a outros serviços de mais importância para a cidade. “Pensei que seria uma obra que resolveria toda a questão da mobilidade urbana, mas percebi que não. Os bairros periféricos continuam sem pavimentação e sem transporte de qualidade”, aponta. 
 
Dona Gildete diz que espera que o BRT resolva a situação, mas também não está otimista. “Gostaria que melhorasse, mas acho que não vai. Da mesma forma foram os transbordos, que, nos anos iniciais, pareciam ter resolvido a situação, mas foram sucateados. Os pontos e os transbordos são um terror nos horários de pico. Triste de quem depende desse serviço diariamente”, lamenta a aposentada.
 
TRANSBORDOS - Sobre as estações de transbordo existentes na cidade, o secretário Saulo Pereira admite que muitas queixas chegam à SMTT. “Temos nos reunido com a empresa que cuida das estações, a fim de discutirmos os problemas apontados pela população. O Terminal Central passará por alguns reparos. Acredito que, no mês de janeiro, tenhamos algumas mudanças significativas”, informa.
 
O vice-presidente do Sintrafs, José de Souza, também reclamou da situação dos transbordos. Segundo ele, as estações não são adequadas ao porte da cidade. “São pequenos, desconfortáveis e não recebem manutenção. Quando os donos das empresas assumiram o sistema, também ficaram responsáveis pelas estações de transbordo e agora dizem que não têm condições de operá-las”, critica.
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL - Em outubro desse ano, a empresa Auto Ônibus São João Ltda entrou com um pedido de recuperação judicial. A medida foi motivo de grande apreensão na cidade. O tema foi, inclusive, objeto do discurso do vereador Roberto Tourinho (PV) na Câmara Municipal de Feira de Santana. “A recuperação judicial é cabível quando uma empresa não tem condição de pagar aos credores. Faz-se o pedido à Justiça e é concedido o prazo de seis meses para apresentação da forma de pagamento. Lamento essa situação, porque, para o BRT funcionar, as empresas precisarão colocar ônibus articulados, com postas do lado esquerdo, para dar acesso aos abrigos. Esse critério está previsto na licitação que concedeu às empresas Rosa e São João o direito de operar o sistema de transporte da cidade. Espero que essa situação seja superada e que a empresa não deixe Feira de Santana”, almeja.
 
O procurador Cleudson Almeida afirmou que a documentação apresentada pela São João ao Poder Judiciário foi analisada e o pedido de inserção na Lei de Recuperação Judicial acatado. Ele ressaltou que cabe ao Município acompanhar e observar a tramitação do processo. “Pontuamos junto à Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito a necessidade de observar a manutenção do contrato de prestação de serviços assumido pela empresa. A SMTT disse que as atividades vêm sendo desenvolvidas normalmente. Por isso, até o momento, não houve consequências desfavoráveis à cidade ou ao contrato celebrado com o ente público”, destaca. 
 
Questionado se a empresa terá condições de operar o BRT, o secretário Saulo Pereira afirmou que a recuperação judicial não pode ser confundida com falência. “Há pouco tempo, a São João ratificou o seu compromisso com a sociedade feirense e informou que continuará prestando seus serviços à cidade. No que tange ao contrato, ela tem atendido 100%. Estamos operando um sistema com curva ascendente. Melhoramos o carregamento de passageiros nos últimos quatro meses e acreditamos que, até o final das obras do BRT, não teremos problemas. Não existe registro da empresa no sentido de não cumprimento do contrato”, enfatiza. 
 
Por conta dessa situação, a Câmara Municipal de Feira de Santana convocou, no dia 24 de novembro, uma audiência pública, para tratar do pedido de recuperação judicial da Auto Ônibus São João, mas nenhum representante da empresa se fez presente. A ausência foi justificada pela empresa com a afirmação de que a data que constava no ofício estava errada. O presidente da Comissão de Obras, Urbanismo, Infraestrutura Municipal e Meio Ambiente da Casa da Cidadania, vereador Roberto Tourinho (PV), explicou o mal entendido. Segundo ele, os representantes da empresa tinham plena ciência da data marcada, mas não compareceram porque, no mesmo dia em que a audiência foi realizada, os permissionários do transporte alternativo protestavam em frente à Câmara de Vereadores, contra a redução do número de veículos licenciados, prevista na nova licitação da Prefeitura Municipal, que acabou suspensa pelo prefeito José Ronaldo de Carvalho.
 
A medida, de acordo com o secretário Saulo Pereira, foi tomada a fim de que alguns pontos do documento pudessem ser melhor analisados. “Estamos rediscutindo os tópicos apontados pelos permissionários. A demanda de vans proposta na última licitação foi estudada por uma empresa, que chegou à conclusão de que o número de 105 vans seria o suficiente para atender a população dos distritos e da zona rural”, esclarece.


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