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André Pomponet

Desabastecimento no Centro de Abastecimento

André Pomponet - 28 de Maio de 2018 | 16h 11
Desabastecimento no Centro de Abastecimento

Maior entreposto comercial do interior da Bahia, o Centro de Abastecimento esteve à míngua nessa segunda-feira (28). Quase não há mais o que vender e os frequentadores – sobretudo aqueles que desembarcam de municípios próximos – não compareceram. “O pessoal está com medo de não ter como voltar para casa”, resumiu um comerciante, que examinava com atenção a tela do celular, já que não havia clientes para atender. Essa, a propósito, foi a regra pela manhã, horário de intenso movimento em dias normais. Com a prolongada greve dos caminhoneiros, a queda no fluxo foi drástica.

Que o Centro de Abastecimento vive dias atípicos é facilmente constatável: nos galpões atacadistas, que ficam à margem da Avenida de Canal, não havia o tradicional frenesi de desembarque e embarque de mercadorias. Pelo contrário: não havia caminhões descarregando e raros eram os utilitários que estavam por lá, transportando mercadorias revendidas em mercadinhos e feiras-livres de bairro.

Muitas barracas permaneciam fechadas a cadeado. Pelas grades, percebia-se tudo vazio, sem estoque disponível. Um ou outro comerciante exibia razoável estoque de batata inglesa, mas faltavam clientes. Cebola, tomate e pimentão – itens indispensáveis na dieta do feirense – estavam em falta. Aqui ou ali, montes de abóboras, certamente colhidas na região, despertavam a atenção dos escassos compradores.

No galpão varejista de verduras e legumes havia imensa desolação: dezenas de barracas vazias, sem produtos ou vendedores. Laços firmes nas lonas que encobrem as barracas mostravam que os verdureiros sequer compareceram ao entreposto. Uns poucos, mais afortunados, vendiam braças de hortaliças, extraídas das hortas do Bessa e de Amélia Rodrigues.

Carne e Cereais    

Açougueiros papeavam, à espera de clientes incertos. Restava pouco de carne para vender: nas vitrines frigoríficas, um ou outro pedaço do produto em exposição. Frequência rotineira só a dos cães vadios circulando pelos corredores. Também estava em falta a afamada carne salgada da região. E a oferta de doces – em pasta ou em barra – era muito menor que o habitual. Invariavelmente os comerciantes examinavam as telas dos celulares, entediados.

As sacas de feijão, de farinha e de arroz estão se esgotando, mas o cenário é mais alentador que nas seções de hortifrutigranjeiros. Aqueles boxes que mercadejam óleo de soja, fósforo, sabão em pó, macarrão, charque, mortadela e mais uma infinidade de produtos estavam bem abastecidos. Mas permanecia o problema da clientela escassa e arisca nesses dias de incerteza.

Muitas mesas estavam vazias nos boxes que vendem refeições e bebidas. Ali, o problema era outro: a ausência dos clientes das cercanias, que não viajaram em função das incertezas nas estradas. Os telejornais – exibidos em tevês espalhadas pelos boxes – despertaram atenção incomum durante a manhã. “Está faltando autoridade”, reclamou um inconformado com o impasse.

Centro da Cidade

O paradeiro se estendeu também ao centro da cidade. Na Praça Bernardino Bahia – tradicional ponto de comercialização de frutas, verduras, legumes e hortaliças – havia poucos vendedores. Maçãs, acerolas, abacaxis e tangerinas estavam entre os poucos produtos disponíveis. Mas quem passava dedicava pouca atenção às ofertas e os comerciantes, ociosos, entabulavam longas conversas.

As incontáveis barracas dos camelôs, com seus diversos produtos, estavam abertas, mas a clientela também estava escassa. Aqui ou ali alguém escolhia um CD pirata, uma mulher examinava roupas em exposição nas barracas, mas o movimento era ínfimo. O trânsito de pedestres pelos calçadões – difícil às segundas-feiras – estava muito tranquilo. Havia mais silêncio: os pregões tornaram-se inúteis, principalmente de quem vende chip de celular.

Os efeitos da paralisação dos caminhoneiros – que já dura mais de uma semana – vão começar a ser sentidos de fato, com o desabastecimento de feiras, supermercados, padarias e restaurantes. Há filas nos postos e se tornou comum gente transportando recipientes para depositar combustíveis. Os motociclistas são os mais ansiosos em filas que vão se avolumando quando há reabastecimento no posto.

Até aqui, percebe-se uma festiva adesão de muita gente. Não falta quem se arroje nas conversas, defendendo a deposição de Michel Temer (MDB-SP) e há quem circule com bandeiras brasileiras, acessórios verde-amarelos – esquecidos nos últimos dois anos – convicto de que há, em curso, mas uma jornada cívica. Caso os caminhoneiros não recuem e haja efetiva crise de abastecimento, ninguém sabe como vai ficar esse apoio.

Aliás, hoje, ninguém sabe de nada sobre o que está por vir.



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