Eles estão afastados do local de trabalho desde janeiro de 2014
O local provisório do Mercado de Arte Popular na rua Olímpio Vital em nada lembra o prédio imponente construído em 1914 na avenida Getúlio Vargas, de parede com painel pintado em azulejo pelo artista feirense Juraci Dórea, de atmosfera regional, com artefatos nordestinos e artesanato em couro e deliciosa maniçoba da praça de alimentação.
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Afastados do local tradicional de trabalho, desde janeiro de 2014, os comerciantes do MAP lutam pela conclusão da reforma do prédio. A previsão inicial da prefeitura foi que a obra duraria seis meses.
Quase um ano e seis meses depois, dos cerca de 112 comerciantes cadastrados na Associação de Empreendedores do MAP, pelo menos 50% desistiu de manter o seu comércio aberto no local provisório, segundo o presidente da Associação de empreendedores do MAP, Ronildo Carlos Ramos.
O galpão onde está atualmente o MAP na Olímpio Vital, tem 1.800 metros quadrados, onde foram distribuídos os 114 boxes. Para Ronildo, a demora da reforma aliada à localização é ruim para os comerciantes. Ele avalia que o movimento do comércio no entreposto caiu cerca de 90%. "A situação é crítica no geral. Todo mundo está angustiado e ansioso, fazendo um sacrifício muito grande. Há pessoas endividadas e pessoas que desistiram e preferiram abrir o comércio em outros pontos do centro da cidade", afirma.
Ele avalia que o movimento de transeuntes é muito pequeno naquela localidade. "O maior movimento de pedestres no comércio de Feira é entre a avenida Senhor dos Passos e Conselheiro Franco e disso aí pra cima, sentido início da Getúlio Vargas, não no sentido daqui pra baixo, pro lado do Centro de Abastecimento. Pra você ter uma noção da falta de movimento, uma malharia abriu aqui do lado, no mesmo período em que viemos pra cá e em um ano fechou ", reflete.
O comerciante Peppe trabalha há mais de 20 anos no ramo de comida e há pelo menos 15 anos tem um pequeno restaurante no MAP. Quando foram transferidos para o local provisório, resolveu fazer um teste do movimento. Em 30 dias resolveu que não iria ficar. "Passei 30 dias vendo o movimento e nisso verifiquei que a minha permanência lá iria me dar prejuízo, pois o movimento não é viável pro meu negócio. Eu não podia perder este tempo todo tendo despesas sem ter retorno financeiro", afirma. O comerciante ainda paga pelo ponto para garantir o lugar, mas está fechado. Montou o comércio no fundo do prédio do MAP, próximo da Sales Barbosa.
Deildes de Jesus de 45 anos, que trabalha há 25 anos no MAP vendendo artesanato e roupas, está passando pela pior crise, segundo ela. "No mercado todos os dias fazíamos uma venda. Aqui a gente passa semanas sem conseguir vender nada. A gente abre o box, tem dia que vende 10 reais e tem dia que não vende nada. Já cheguei a passar a semana inteira sem vender. Eu estou endividada, só dando satisfação e nada do dinheiro entrar. Tenho filhos e estou numa situação que só chamando por Deus. Estou desesperançosa com esta reforma, mas esperando que a gente retorne logo pra lá, pois lá com certeza o movimento é melhor", relata.
Para Nilton Rasta, conhecido artesão de instrumentos musicais no MAP, até para manter a estrutura funcionando tem sido difícil, já que a prefeitura dá o local, mas os comerciantes recolhem uma taxa para a associação, para manter o lugar aberto, com limpeza e segurança. "O que estava ruim só tem piorado cada dia mais, com toda esta situação e com a crise econômica que estamos passando. Nós não temos aptidão para outra coisa a não ser isso. Precisamos de ajuda, esta situação não pode continuar, são famílias que dependem disso aqui", afirma.
Procurada pelos comerciantes, que usaram a Tribuna Livre na sessão de terça-feira, a Câmara Municipal enviou uma comissão para acompanhar de perto a reforma do prédio do MAP. Os vereadores prometeram levar a técnicos da Universidade Estadual de Feira de Santana o pedido de um estudo para apontar o real andamento da obra e as condições de execução.
Segundo o vereador e presidente da Comissão de Obras, Urbanismo e Infraestrutura da Câmara, Alberto Nery (PT), o prédio necessita de uma atenção maior devido ao seu valor histórico e cultural. “Não sou técnico da área, mas estamos falando de um prédio centenário, que exige um cuidado ainda maior para sua restauração. É preciso fazer as intervenções da maneira adequada, levando em conta a preservação do patrimônio”. Em visita à obra ele avaliou que o painel do artista feirense Juraci Dórea não está bem coberto e pode ser danificado.
O vereador esteve no MAP na terça-feira (12) e acha que ainda falta muito para o serviço terminar. “O que pudemos observar é que muito pouco foi feito. Parte do telhado foi trocado e só. Apenas seis colaboradores trabalham no local. Segundo o proprietário da construtora responsável, Aldo Marinho, 70% da obra foi feita. A prefeitura diz que foi 80%. Aos meus olhos, de leigo, não foi feito nem 30%. Enquanto isso, os comerciantes são prejudicados sem ter idéia de quando a reforma será concluída”, criticou.