A campanha eleitoral está sendo diferente em 2018. E não é só porque o líder das pesquisas na corrida presidencial está preso e inelegível – Lula (PT) permanece na carceragem da Polícia Federal em Curitiba – nem porque o segundo colocado, Jair Bolsonaro (PSL), amedronta aqueles que alimentam apreço pela democracia e pelas instituições democráticas. É que as mudanças tocadas por Eduardo Cunha (MDB-RJ) – também preso – na pretensa reforma política realizada em 2015 engendrou um cenário novo.
Uma mudança foi o encurtamento do tempo de campanha: passou de dois meses para apenas 45 dias, cerca de 30 deles de tempo de tevê. Outra foi o financiamento público como fonte exclusiva, o que reduziu o volume de dinheiro à disposição dos postulantes. Quem é rico, porém, pode se doar dinheiro à farta, o que a legislação permite. É, portanto, uma disputa fria, com vantagem inequívoca para os candidatos endinheirados.
Aqueles muros multicoloridos, o mosaico de cartazes com semblantes rejuvenescidos, os incômodos carros de som e a profusão de cabos eleitorais empunhando bandeiras, tudo ficou como lembrança do passado ou se reduziu dramaticamente. É um padrão que replica democracias maduras, mas que não deixa de causar estranheza no Brasil de paixões políticas à flor da pele.
Corriqueiras, mesmo, só aquelas plotagens nos para-brisas traseiros dos automóveis. Ainda assim, essa publicidade só vem se intensificando nos últimos dias, à medida que a campanha eleitoral caminha para a reta final. Quem dispõe de mais recurso, obviamente, mobiliza mais gente a seu favor, conforme se vê. O que é o desdobramento natural das regras adotadas para as eleições em curso.
Surpresas?
Isso sinaliza para surpresas nas eleições de outubro? Talvez o inusitado se dê no nível dos nomes ungidos pelo eleitorado. O perfil de quem vai vencer, porém, já se intui desde já: vai ser gente com recurso, no exercício de mandato ou que dispõe da máquina pública para sair pedindo voto. Os descendentes das velhas oligarquias também saem à frente, assim como aqueles que transitam pela cúpula dos partidos.
No mais, os parlamentos tendem a acentuar a tendência que se enxerga nas últimas eleições: a da ascensão de empresários, líderes conservadores, religiosos. Boa parte é entusiasta do balcão, do “toma lá dá cá”, dos conchavos de bastidores, da deturpada máxima franciscana do “é dando que se recebe”.
Circulando pela Bahia percebe-se que é gente com esse perfil que inaugura os melhores comitês, mobiliza mais prefeitos aliados, conta com adesões entusiasmadas e investe de maneira mais incisiva no estardalhaço visual típico desse período. Quem envereda nessa jornada movido por “ideologia” tende a ser esmagado, mais ainda do que já foi no passado.
Mas é necessário ressaltar que o clima eleitoral está frio e que as urnas podem reservar surpresas. Uma delas, inclusive, não pode ser negligenciada: a elevação da abstenção do eleitor, desalentado com a crise política, o que pode produzir desarranjos inesperados na configuração dos próximos parlamentos.