Aos 60 anos, Victor Escobar Prado teve, finalmente, seu
desejo atendido pela Justiça colombiana. Ele morreu por eutanásia, nesta sexta-feira
(7), tornando-se a primeira pessoa não acometida por doença terminal autorizada
a passar por esse procedimento na Colômbia.
Segundo o G1, a morte assistida foi realizada em uma clínica localizada
na cidade de Cali, após dois anos de batalha judicial para que o pedido fosse
aprovado. Luis Giraldo Montenegro, advogado de Victor, confirmou a realização
do procedimento, por meio de uma publicação no Twitter. “Victor Escobar pediu
para doar seus órgãos. Ele morreu às 21h20 de sexta-feira, 7 de janeiro de
2022, como era seu desejo. Victor conseguiu. Ele descansou da dor”, escreveu o
jurista.
Pouco antes, o motorista colombiano divulgou um vídeo,
agradecendo a todos que se solidarizaram com a sua situação. “Obrigado a todos
os colombianos que, de uma forma ou de outra, nos deram apoio, essa confiança
para continuar com nossa luta. Bênçãos e abraços a todos. E eu não digo adeus,
mas até logo. A vida não se compra. Aos poucos, vai chegando a vez de cada um
de nós. Pouco a pouco, nos encontraremos onde Deus nos colocou. Abraços e
bênçãos a todos. (...) Eu os estimo e amo de toda a minha alma”, despediu-se.
Victor Escobar passou os últimos momentos de sua vida ao lado
da mulher, Diana, e de seus quatro filhos. Também desfrutou da companhia de seu
advogado, com quem compartilhou o último almoço.
Em seguida, diz o G1, ele se reuniu com jornalistas, em sua residência,
para se despedir, publicamente, daqueles que acompanharam sua luta jurídica
pelo direito à eutanásia. Atendendo a um pedido seu, a imprensa não compareceu
à clínica para acompanhar o procedimento, aguardando o comunicado do falecimento
transmitido por Giraldo Montenegro.
OUTRA TENTATIVA – De acordo com a publicação, antes de
Victor Escobar, Martha Líria Sepúlveda, de 51 anos, que também não tinha doença
terminal, tentou passar pelo procedimento. No entanto, sua eutanásia,
programada para o ano passado, foi suspensa horas antes de ser realizada.
Martha Sepúlveda sofre de uma doença degenerativa e
irreversível, conhecida como Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). A mulher relatou
sentir muitas dores. Também afirmou ter perdido o movimento das pernas, o que,
segundo ela, limitou, sobremaneira, a sua vida cotidiana. Mesmo assim, teve seu
pedido negado.
Sofrimento
e dor – Victor
Escobar, por sua vez, tinha uma série de problemas de saúde, acumulados após
sofrer dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), em 2007 e 2008. O colombiano,
conforme o G1, também havia sido submetido a quatro cirurgias na coluna, em consequência
de um grave acidente automobilístico, sofrido há 36 anos.
Além das dificuldades de mobilidade, provocadas pela
paralisação do lado esquerdo de seu corpo, ele sofria de fibrose pulmonar,
doença crônica que “engrossa” o tecido que envolve os alvéolos dos pulmões, comprometendo
a passagem de oxigênio para a corrente sanguínea e provocando crises de falta
de ar. Também tinha diabetes e hipertensão, sofreu uma trombose e apresentava problemas
cardíacos, com um dos lados do coração maior que o outro.
À imprensa, Victor Escobar disse que, nos últimos quatro anos,
seus dias foram de “sofrimento e dor”. Relatou, ainda, que expelia sangue dos
pulmões e que perdeu o controle sobre a eliminação de fezes e urina, além da
memória. Conforme o G1, após o acidente, ele precisou reaprender a reconhecer
os membros de sua família e até mesmo ações básicas, como comer, falar e ler.
Há dois anos, sua esposa passou a relatar as dificuldades do marido e sua luta
pelo direito à eutanásia em um perfil no Twitter.
Direito
ampliado – A
eutanásia é legalizada na Colômbia desde 1997. O país foi o primeiro na América
do Sul a autorizar o procedimento. Todavia, a prática era válida somente em
casos terminais, como forma de abreviar o sofrimento dos pacientes, caso
decidissem por isso.
De acordo com o G1, no dia 27 de junho de 2021, Victor Escobar
teve o direito negado, porque a junta médica de sua Entidade Promotora de Saúde
(EPS) determinou que ele não se encontrava em fase terminal. A situação mudou
um mês depois, após o Tribunal Constitucional do país ampliar o direito
fundamental de morrer com dignidade aos doentes que sofrem intensamente com
lesões corporais ou doenças graves e incuráveis.
O jornal colombiano El Tiempo reportou que ele e seu advogado
voltaram a solicitar o procedimento em setembro, mas que a médica de um centro
especializado disse não saber como proceder naquele caso. Ele entrou com um
novo pedido em outubro, mas outra clínica de Cali recusou-se a realizar o
procedimento, por ele “não ser um paciente degenerativo”. Victor Escobar não
desistiu e fez mais uma apelação judicial, desta vez ao Tribunal Superior de
Cali.
A situação foi finalmente resolvida após o advogado do
colombiano e uma comissão científica da EPS Coomeva concordarem que a eutanásia
aconteceria no dia 7 de janeiro de 2022, às 19 horas, conforme a vontade do
paciente.