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Prefeitura vai construir casas na Cidade de Plástico, em Salvador

25 de Agosto de 2015 | 10h 28
Prefeitura vai construir casas na Cidade de Plástico, em Salvador
Delegado diz que Cidade de Plástico está mais tranquila
A cozinheira Edna Leite, 46 anos, está na Cidade de Plástico, em Periperi, desde o início da ocupação. Nove anos atrás, ela e outras 30 famílias – quase todas chefiadas por mulheres solteiras – chegaram ao terreno de cerca de 20 mil metros quadrados, por onde passam os trens do Subúrbio Ferroviário no bairro, e deram início à Comunidade Guerreira Zeferina. Lá, bem em frente à Baía de Todos os Santos, instalaram barracos de plástico e lona improvisados para morar, o que levou ao apelido pelo qual a comunidade é mais conhecida.
 
Hoje, com 248 famílias, a Cidade do Plástico já não tem tanto plástico. Foram construídas casas de madeirite e até de tijolos. Mesmo assim, as condições de vida continuam tão precárias quanto no início, com problemas, principalmente, relacionados ao fornecimento de água e energia e à falta de saneamento básico.
 
“A única coisa que tenho feita de bloco, em minha casa, é o meu banheiro. Ontem (terça-feira passada), achei uma cobra em casa. E aqui tem tanto rato que preciso ter gatos. É ratão grande, enorme”, contou Edna, dona de três felinos, na quarta-feira passada, quando a equipe do CORREIO visitou o local.
 
Àquela altura, a maioria dos cerca de mil moradores já sabia da notícia: até o final do ano que vem, a prefeitura pretende dar nova vida à invasão, com a construção de novas unidades habitacionais, em um prazo de um ano. O investimento previsto no projeto de um condomínio é de R$ 18 milhões, com recursos provenientes do município.
 
 
Surpresa
 
Acostumados com o esquecimento, alguns moradores quase não acreditaram que o local passaria por reforma. Ou melhor: que a comunidade vai ganhar um projeto de requalificação total. Há um ano, a Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) vem desenhando o projeto, com a participação dos moradores. Ao longo desses meses, oito reuniões com a prefeitura foram realizadas lá mesmo, em um galpão improvisado entre os vizinhos como centro comunitário.Segundo a presidente da FMLF, Tânia Scofield, o projeto era mais simples, mas foi repensado. “Não há esgotamento sanitário, energia elétrica... O arruamento foi um acesso principal e eles foram construindo os pequenos becos, com esgoto correndo a céu aberto. Com a requalificação, estamos construindo esse direito que todos têm à boa moradia. Vai dar dignidade e o projeto ficou muito bonito”. O projeto final incluiu a criação de residências para todas as famílias cadastradas, parque infantil, praça e até um deck que levará à praia (ver ao lado). Até meados de setembro, deve ser lançada a licitação e a previsão é que as obras sejam iniciadas em dezembro deste ano e tenham duração de 12 meses.
 
Condomínio terá campo, parque infantil e deck de acesso à praia
O projeto que será implantado na Cidade de Plástico até o final de 2016, ao qual o CORREIO teve acesso em primeira mão, prevê a construção de prédios em dois padrões: sobrados, que terão dois pavimentos e somente apartamentos de dois quartos, e prédios com quatro pavimentos, com opção de dois ou três quartos.
 
Entre os sobrados, 20 apartamentos (sempre no andar térreo) serão adaptados para pessoas com algum tipo de deficiência ou dificuldade de locomoção.
O local será administrado como um condomínio, com despesas de manutenção pagas pelos futuros moradores.
 
Segundo Tânia Scofield, presidente da FMLF, a questão dos “gatos” de água e energia, muito comuns na comunidade (ver abaixo), será resolvida. “Trabalhamos nos prédios individualizando a água e a energia, para que não tenha o conflito da conta de condomínio, que será só das áreas comuns”, adianta a presidente.
 
Para completar, serão criadas áreas verdes e de lazer, além de um parque infantil, que deve ficar no espaço da praça em que as crianças da comunidade já usam para brincar. Os acessos e as ruas improvisadas na lama também serão pavimentados.
 
“São becos estreitos. Às vezes, uma casa está colada na outra, mas vamos fazer vias internas de pedestres e uma via de veículos”, conta a responsável pelo projeto. Ainda segundo Tânia, o projeto permitirá uma melhor visão do mar, a partir da Avenida Suburbana. “A gente fez um projeto padrão de conjunto habitacional, mas que tem um movimento, tem uma visão. Quem passar na Suburbana vai ter a visão do mar”, diz. O próprio deck, segundo ela, foi pensado para facilitar o acesso dos moradores à Baía de Todos os Santos, já que muitos são pescadores e marisqueiras.
 
Além disso, o galpão improvisado dará lugar ao espaço comunitário multiuso Guerreira Zeferina, com pátio coberto e sanitários. “A gente vai construir em outras condições, para que eles possam ter atividades até de formação de pessoal, qualificação profissional, treinamento e atividades de lazer”, citou.
 
 
Durante obras, moradores receberão aluguel social
 
Durante as obras, os moradores terão que deixar a Cidade de Plástico temporariamente. Segundo a prefeitura, as 248 famílias cadastradas vão receber um aluguel social ao longo de todo o período. “Quando cheguei aqui, há nove anos, era tudo muito feio. A luz era de vela. Imagine aí quantos incêndios tiveram, com fogo e plástico? Vários... Mas hoje, minha casa é de concreto. Por isso, quero ter a certeza de que vamos voltar”, diz a autônoma Miriã Santana, 33 anos.
 
Segundo a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, a condição mais importante do projeto sempre foi a manutenção das famílias na área. “Inicialmente, pensamos em fazer algo a partir do que eles já tinham, mas a forma como eles vivem é muito precária. Queremos que eles continuem lá, mas nas condições dignas de moradia. É importante manter as famílias ali, porque eles estão próximos do local onde trabalham e estão em um bairro como Periperi, que tem infraestrutura de escola, de saúde, de transportes”, explica.
 
Enquanto a reforma não chega, os moradores da Comunidade Guerreira Zeferina sequer têm um endereço para chamar de seu. “Até se comprar um móvel, alguma coisa que tenha que entregar, vai chegar com dificuldade”, afirma a dona de casa Vanessa Correia, 23.
 
A água vem de ligações da rua. A energia? É resultado de um “gatão”, segundo os próprios moradores. Os fios se espalham pelos becos, todos vindos de um mesmo poste na Suburbana. De lá, um fio maior traz a energia para todos, passando, inclusive, pela linha do trem. “Mas quando chega no trem, passa por baixo da linha. Às vezes, a gente fica sem luz e, quando vai ver, é porque partiu o fio”, conta a jovem.
 
O filho de Vanessa, de apenas 2 anos, está cheio de marcas e brotoejas na pele. Na semana passada, ele esteve internado num hospital. Os médicos disseram que ele contraiu uma doença por conta de alguma bactéria na terra onde as casas foram erguidas. “Tem muito bicho morto, mas vim morar aqui porque queria ter uma coisa minha”, justifica Vanessa.
 
Cidade de Plástico está mais tranquila, diz delegado
Se, no passado, a Cidade de Plástico era um local visado por criminosos - foi lá que, em abril de 2013, foi preso o traficante Fábio Conceição Brito, o Cebola, então líder do tráfico e autor confesso de 18 homicídios, junto com mais cinco traficantes -, agora, a coisa mudou de figura, de acordo com o delegado Nilton Borba, titular da 5ª Delegacia (Periperi). Segundo ele, há mais de 60 dias não é registrado nenhum assassinato no local, onde vivem cerca de mil pessoas. No bairro, diz Borba, as tensões também diminuíram, com registro de “somente” quatro mortes este mês. “Não vou dizer que é um paraíso, mas nós já tivemos uma média de 40 por mês, para ter uma ideia”, relembra.
 
Para ele, os resultados se devem, principalmente, ao policiamento ostensivo e à parceria entre os moradores e a polícia. “Ali, moram pessoas de bem. Identificamos pessoas que passaram a colaborar com a polícia. Também passamos a fazer operações quase diárias, para o tráfico não dominar a área”, revela. Cebola foi o último grande traficante que dominou a área, mas foi morto em fevereiro deste ano. Apesar do antigo domínio, o delegado diz que o tráfico na região nunca foi dominado por grandes grupos. “Era o que chamamos de tráfico de formiguinha”, avaliou.
 
Residencial terá campo de futebol e centro comunitário. Quem passar na Av. Suburbana terá vista do mar

FONTE: Correio



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