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André Pomponet

A migração e a extrema pobreza em Feira

André Pomponet - 10 de Novembro de 2015 | 10h 03
A migração e a extrema pobreza em Feira

Durante muito tempo a Feira de Santana foi o destino – transitório, em diversos casos, ou definitivo, noutros tantos – de muita gente que fugia da inclemência das secas no sertão agreste da Bahia e de estados nordestinos próximos, como Pernambuco, Alagoas, Sergipe ou Paraíba. Isso a partir dos anos 1950 e até os primeiros anos da década de 1980, quando o Brasil viveu o auge do ciclo migratório do campo em direção às cidades. Depois, quando o eldorado urbano se exauriu – sobretudo em função da prolongada crise econômica que se abateu sobre o País, tornando as metrópoles menos atrativas – os fluxos se reduziram.

Na Feira de Santana, muitos bairros – sobretudo aqueles localizados fora do perímetro do Anel de Contorno – surgiram e se consolidaram absorvendo os migrantes que aportaram por aqui em definitivo. As habitações precárias dos primeiros tempos foram cedendo lugar a construções de alvenaria que, somadas, delinearam ruas e vielas. Depois chegaram os serviços públicos, como a água, a luz e a coleta de lixo. O saneamento segue como um desafio, mesmo nos dias atuais.

À época – mesmo na primeira metade dos anos 1990 – era comum encontrar migrantes acampados ao longo da Avenida de Contorno, na BR 116 Norte ou mesmo em ruas e avenidas da Feira de Santana. Barracos improvisados com lonas plásticas asseguravam a privacidade precária às mulheres, às crianças e aos chefes de família. Faltava tudo, até mesmo o essencial: roupas, cobertores, utensílios e, sobretudo, comida.

Quem conseguia, seguia viagem buscando o eldorado no Sudeste. Muitos foram acotovelar-se em favelas, encarapitar-se nos morros ou perambular, sem teto, pelas ruas das grandes cidades. Alguns, desiludidos, retornaram à terra natal, convencidos que a miséria não tem fronteira. Conforme já dito, muitos ficaram pela Feira de Santana. O traço marcante e característico entre todos era a exclusão e a falta de oportunidades numa sociedade desigual e em aguda crise econômica.

A partir dos anos 1990 o Brasil conseguiu avançar alguns passos em relação à inclusão. Primeiro veio a estabilização monetária que também beneficiou os mais pobres: com o Plano Real, houve uma redução súbita na quantidade de pobres ou extremamente pobres. Depois, e até recentemente, os programas de transferência de renda atenuaram a exclusão, assegurando o mínimo indispensável a parcela expressiva da população.

Reversão

A quadra favorável praticamente extinguiu as cenas, comuns, de homens e mulheres famélicos, em trânsito, aguardando a chance de seguir viagem, em busca de melhores condições de vida. Mas, ainda assim, a pobreza e a exclusão seguem como fenômenos presentes na rotina da Feira de Santana. A diferença é que, hoje, os excluídos residem no município e, não raramente, nasceram aqui mesmo.

Em 2010, o IBGE apurou que 37,9 mil pessoas – ou 6,8% da população feirense – encaixavam-se na condição de extremamente pobres, sobrevivendo com menos de R$ 70 per capita, por mês. Como são as condições de vida de quem dispõe de apenas esse valor para sobreviver? O próprio Censo trouxe algumas respostas, estarrecedoras até para quem tem acesso apenas ao conforto mínimo da vida urbana.

Segundo o levantamento, 5,2 mil (13,7%) vivem sem acesso à rede de água e 488 (1,7%) não contam com energia elétrica. Esgoto ou fossa séptica é luxo para a maioria: 21,8 mil (57,4%) não tem acesso a esse serviço. Já a coleta de lixo não está à disposição de 7,7 mil – 20,5% - do universo dos extremamente pobres.

As condições de moradia também são muito precárias: 7,6 mil – ou 20,2% - não contam com banheiro em casa. A situação mais extrema é de 266 feirenses (0,7%) que vivem em habitações sem paredes externas de alvenaria. Noutras palavras, são protegidos dos rigores do clima com paredes improvisadas de madeira, metal, papelão, plástico ou qualquer outro material do gênero.

Nos últimos anos, talvez a situação tenha melhorado um pouco, reduzindo-se o número dos extremamente pobres. Afinal, as ações dos governos estão aí pra isso, conforme se vê na propaganda. Mas, com a crise, pode ter piorado também. O fato é que a chaga da exclusão permanece viva, embora escondida entre os muros da selva de pedra...



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