Sete irmãos ciganos já foram mortos, após crime que vitimou policiais militares (Foto: Reprodução)
Policiais militares mataram, na manhã desta sexta-feira (30),
na cidade de Anagé, no sudoeste da Bahia, o oitavo cigano supostamente
envolvido nas mortes do tenente Luciano
Libarino Neves, de 34 anos, e do soldado Robson Brito Matos, de 30. Os
agentes realizavam uma investigação no distrito de Josué Gonçalves, em Vitória
da Conquista.
Segundo o portal de notícias Correio, a Secretaria da
Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) informou que o homem estava
tentando invadir residências numa localidade conhecida como Lagoa Grande. A
ação teria sido denunciada por moradores.
Conforme a PM, o cigano portava um revólver calibre 38, além
de munições e de uma faca tipo peixeira. Ele e outros três ciganos foram
cercados por guarnições da Companhia Independente de Policiamento Especializado
Central (Cipe Central) e da 79ª Companhia Independente de Polícia
Militar (79ª CIPM).
Os agentes relataram, ainda, que houve troca de tiros e que o
cigano baleado não resistiu aos ferimentos. Na ação, diz o Correio, a pistola
do soldado Robson Brito de Matos, roubada após ele ter sido morto, foi
recuperada.
Sucessão de mortes - Na tentativa de elucidar os crimes que vitimaram os
policiais, no último dia 13, sete irmãos já foram mortos, pela polícia, nas
últimas semanas. Segundo o Correio, parentes estão com medo de que toda a
família acabe sendo dizimada.
"O pai está inconsolável. A mãe, a mesma coisa. Eles perderam
sete filhos e três estão sendo caçados iguais a bicho. Eles [os policiais]
estão aterrorizando, invadindo casas de pessoas inocentes. A situação está
muito difícil. Os que estavam envolvidos nas mortes dos policiais já foram
mortos, no início. Agora, eles querem matar todos os irmãos, que são 10, no
total", disse uma familiar dos ciganos mortos, que, por medo de represália,
abandonou a própria casa, em Vitória da Conquista.
Conforme a reportagem, o primeiro a ser morto foi Ramon da Silva Matos. O cigano foi alvejado
no mesmo dia da execução dos policiais militares, no bairro de Lagoa das
Flores. Ele foi socorrido, mas chegou sem vida ao hospital. Segundo a versão da
polícia, o homem reagiu a tiros a uma abordagem.
No dia seguinte, mais três irmãos do cigano foram mortos,
após a prisão do pai, Rodrigo Silva Matos, também acusado de participar do
crime. Um deles, de 13 anos, foi baleado dentro de uma farmácia, em Vitória da
Conquista. Apesar de as circunstâncias da morte ainda não terem sido elucidadas,
a família culpa a polícia. Os outros dois foram mortos na cidade de Itiruçu. Arlan
e Dalvan da Silva foram baleados dentro de um CrossFox preto. Eles teriam disparado
contra uma barreira policial.
Em 18 de julho, o
empresário Diego Santos Souza, de 29 anos, também morreu, em Vitória da Conquista.
De acordo com o Correio, ele foi encontrado dentro de um carro. O corpo estava
carbonizado. Testemunhas dizem que o jovem foi confundido com um cigano, mas a
polícia investiga as hipóteses de acidente ou homicídio.
Já no dia 28, Sólon, Diogo e Bruno Silva
Matos morreram, também em confronto com a polícia, no município de Anagé. A PM
relatou que eles estavam às margens do rio Gavião e que reagiram, ao serem
abordados.
Proteção a testemunhas - Ainda segundo o Correio, uma família
de ciganos que vive na cidade está sendo acompanhada pela Defensoria Pública do
Estado (DPE), após denúncias de perseguição de policias militares à comunidade
cigana. Cinco mulheres e sete crianças tiveram de se mudar para um município
vizinho.
A DPE busca a inserção delas em um programa de proteção a testemunhas.
"A mãe dos meninos, as mulheres dos meninos, os filhos dos meninos que foram
mortos correm risco de morte, assim como todos nós. Toda a comunidade cigana
está apavorada", disse a familiar dos ciganos.