Não se lega futuro destruindo o Meio Ambiente, mas, em
Feira, o descaso, promessas não cumpridas e frequente tolerância com a
especulação imobiliária têm sido a realidade. Não é à toa que, das magníficas
120 lagoas, enterramos a metade. E mesmo quando se consegue a preservação, como
na excelente Lagoa Grande, vira obra interminável – espécie de maldição local.
A manutenção do lençol freático garante abastecimento, evita
a impermeabilização do solo e enchentes, reduz a temperatura do ar, além de
garantir beleza, comércio, lazer, melhoria da saúde da população por ser área
de práticas esportivas.
Uma das lagoas que precisa ser salva da especulação, como
mostramos, mais de uma vez, no Tribuna Feirense (ainda que às custas de
ameaças), é a Lagoa Salgada. Alguns alegam que não há água, mas é só observar
as fotos que fiz neste sábado para desmentir essa realidade.
No entorno da lagoa, pequenos invasores e poderosos donos de
escrituras são uma constante ameaça, embora ali seja uma Área de Proteção
Permanente (APP). Apesar da importância da preservação, considerando a expansão
urbanística naquela direção, só temos colhido anúncios que não se cumprem. A
história é longa.
Em 2013, o deputado Zé Neto (PT) defendeu, em discurso na
Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), a criação de um parque na Lagoa
Salgada. Nada aconteceu. Em fevereiro de 2014, secretários municipais do prefeito
José Ronaldo, Ministério Público Estadual (MPE), através do promotor Luciano
Ghignone, anunciaram uma “força-tarefa” e um “pacto de preservação”. Nada
aconteceu.
Em fevereiro de 2016, pelo Jornal Tribuna Feirense,
acompanhei o deputado Zé Neto; Messias Gonzaga (Inema); Roberto Tourinho, então
secretário municipal do Meio Ambiente; Eugenio Splenger, secretário estadual do
Meio Ambiente; e o Frei José Monteiro Sobrinho, durante visita à Lagoa Salgada.
Nada aconteceu. Quando Sérgio Carneiro foi secretário do Meio Ambiente,
mostrou-me fotos de nascentes da Lagoa aterradas, que ele mandou reabrir, com
trator.
Em 2017, a Prefeitura Municipal de Feira de Santana (PMFS)
anunciou projeto de revitalização. À época, o governo anunciou que a área total
do projeto seria de 1.721.817.40 metros quadrados, numa área alagada de
828.844.80 metros, com profundidade média de 2 metros e meio; pista de Cooper,
com 11.268.11 metros; ciclovia, com 15.955.64 metros; anfiteatro, numa área de
5.586.14 metros; restaurante, com dois pavimentos, com 2 mil metros quadrados.
Nada aconteceu.
Em 2020, a PMFS anunciou que iria investir R$ 3 milhões.
Nada aconteceu. Em dezembro de 2020, o Tribuna Feirense publicou que a Lagoa
Salgada seria revitalizada, segundo informava o Secretário Arcênio Oliveira.
Nada aconteceu. Em 2021, a prometida obra foi objeto de propaganda da
Prefeitura na TV. Nada aconteceu.
Ao longo desses dez anos de descaso administrativo, fake
news, ausência de prioridade, desrespeito ao eleitor, ao cidadão feirense, nenhuma
das ações anunciadas pelo governo do estado, PMFS, MP, aconteceram. Apenas os
invasores, grileiros urbanos, vorazes construtores, continuaram atuando na
Lagoa, aterrando nascentes, vendendo imóveis irregulares, acossando a área, com
os condomínios, diante da omissão do poder público.
Por isso, venho aqui, como cidadão, eleitor, feirense,
através desta carta, pedir e cobrar que o prefeito Colbert Martins, o
governador Jerônimo Rodrigues (ou seu representante), o deputado Zé Neto e o
Ministério Público do Estado da Bahia entendam a importância e o impacto desse
projeto e atuem coletivamente, de forma definitiva, honesta, corajosa e real –
sem vender ilusões – na implantação do Parque da Lagoa Salgada. Com hora e data
a serem cumpridas.
Não podemos continuar mantendo vazio o bocapio do feirense,
com promessas de isopor, sem que nada aconteça. Nós damos os votos e os
recursos que vocês nos cobram, mas queremos o retorno do que temos oferecido. A
vida ou morte dessa lagoa está sob a responsabilidade de vocês.