O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta segunda-feira (10), durante a abertura da 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), que a governança global precisa se posicionar a favor de uma transição justa para economias de baixo carbono”.
Isto, segundo o chefe de Estado
brasileiro, evitaria um colapso climático planetário. O evento prossegue até o dia 21, em Belém, capital do estado do Pará. "Uma
transição justa precisa contribuir para reduzir as assimetrias entre o Norte e
o Sul Global, forjadas sobre séculos de emissões. A emergência climática é uma
crise de desigualdade. Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável. Ela
aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve
morrer. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela
tragédia. O desalento não pode extinguir as esperanças da juventude. Devemos a
nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma Terra onde seja possível
sonhar", destacou.
O presidente citou o pensador indígena Davi Kopenawa, com o
intuito de pedir clareza aos negociadores. "O xamã yanomami Davi Kopenawa
diz que o pensamento na cidade é obscuro e esfumaçado, obstruído pelo ronco dos
carros e pelo ruído das máquinas. Espero que a serenidade da floresta inspire,
em todos nós, a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser
feito", lembrou.
Realizada pela primeira vez na
Amazônia – bioma com a maior biodiversidade do planeta e um regulador do clima
global –, a COP30 tem o desafio de recolocar o tema das mudanças climáticas no
centro das prioridades internacionais.
Lula enfatizou que o aquecimento global pode empurrar milhões
de pessoas para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanço.
Também lembrou o impacto desproporcional que mudança do clima causa sobre
mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos vulneráveis, o que, segundo ele,
deve ser levado em conta nas políticas de adaptação.
O presidente reafirmou, ainda, o papel dos territórios indígenas e de comunidades tradicionais nos
esforços de mitigação do aumento das temperaturas, pela preservação das
florestas e, consequentemente, a regulação do carbono na atmosfera. "No
Brasil, mais de 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas.
Talvez ainda seja pouco", ponderou.
Crítica aos negacionistas – O presidente do Brasil criticou
duramente os que negam a ciência e usam a desinformação para contrariar as
evidências trágicas das mudanças no clima global. E reafirmou que a COP30 será
a "COP da verdade". "Na era da desinformação, os obscurantistas
rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do
multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo.
Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma
nova derrota aos negacionistas. Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a
um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos
andando na direção certa, mas na velocidade errada", apontou.
Acelerar a ação climática – Além
disso, Lula pediu que os
líderes acelerem as ações necessárias para conter o aumento da temperatura do
planeta e voltou a defender um mapa do caminho para superar a dependência dos
combustíveis fósseis – que causam 75% do aquecimento global.
Para tanto, o presidente sugeriu a criação de um conselho
mundial sobre o tema. "Avançar requer uma governança global mais robusta,
capaz de assegurar que palavras se traduzam em ações. A proposta de criação de
um Conselho do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, é uma forma de dar a
esse desafio a estatura política que ele merece", pontuou.
Ao citar o chamado à ação, por parte do Brasil, na COP30,
Lula destacou a necessidade de formulação e implementação de Contribuições
Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) mais ambiciosas, garantia
de financiamento, transferência de tecnologia e capacitação aos países em
desenvolvimento, além de priorizar políticas de adaptação aos efeitos da
mudança do clima.
No seu entendimento, "a mudança do clima já não é uma
ameaça do futuro. É uma tragédia do presente”. Lula mencionou, ainda, tragédias
recentes, em diversas partes do planeta. “O furacão Melissa, que fustigou o
Caribe, e o tornado que atingiu o estado do Paraná, no Sul do Brasil, deixaram
vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios na África e na
Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da
temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações
mais vulneráveis", observou.
Coração amazônico – De improviso, antes de começar a ler
o discurso oficial, Lula agradeceu ao povo do Pará e disse que os participantes
da COP30 serão recebidos por "homens e mulheres muito alegres, muito
educados”. E salientou que moradores cuidarão dos visitantes que participam do
evento como estes “jamais foram cuidados".
O presidente ainda enfatizou a culinária paraense, ao sugerir
que os visitantes comam maniçoba. Ressaltou que é mais barato cuidar do clima
do que fazer guerra, em alusão aos gastos militares que superam US$ 2 trilhões,
e a necessidade de atingir US$ 1,3 trilhão anuais para ação climática. "Trazer
a COP para o coração da Amazônia foi uma tarefa árdua, mas necessária. A
Amazônia não é uma entidade abstrata. Quem só vê a floresta de cima desconhece
o que se passa à sua sombra. O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50
milhões, incluindo 400 povos indígenas, dispersa por nove países em
desenvolvimento, que enfrentam imensos desafios sociais e econômicos",
frisou Lula.
Fafá de BelÉm e indígenas – A abertura da COP30 contou, também,
com a participação da cantora Fafá de Belém e da cantora e ministra da Cultura,
Margareth Menezes. Juntas, elas cantaram a canção Emoriô, de João
Donato, e Fafá interpretou a música Amazônia, de Nilton Chaves.
Também subiram ao palco indígenas da etnia Guajajara, do
Maranhão, que dançaram e entoaram cantos, durante um tradicional ritual.
*Com informações da
Agência Brasil.