Magistrada atendeu pedido do MP-BA, que alega que letras cantadas por grupo promovem "coisificação e humilhação da figura feminina"
Por meio de liminar, a juíza Amanda Analgesina Andrade determinou
que a Prefeitura de Serrinha, município localizado na região sisaleira da
Bahia, suspenda, imediatamente, a execução do contrato firmado com a banda O
Erótico para apresentação no São João da cidade. Expedida nesta quinta-feira
(22), a decisão liminar provocou o cancelamento do show programado para o sábado
(24).
A magistrada também proibiu uma nova contratação do grupo
musical, pelo menos até decisão judicial definitiva. A determinação atende ao pedido
realizado em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público da Bahia
(MP-BA).
Conforme o portal Bahia Notícias (BN), na ação, o MP destaca
que "há necessidade de se assegurar a coibição desse tipo de violência nos
eventos de Serrinha, notadamente daqueles custeados com recursos públicos e,
especialmente no São João, festa tradicional onde se reúnem crianças e
adolescentes que podem ser, facilmente, influenciados com tais discursos, aos
quais remetem à violência, a coisificação e a humilhação da figura
feminina".
Acatando os argumentos do MP e ancorada em decisões judiciais
anteriores, a liminar aponta que a contratação da banda desrespeita previsões
contidas na Lei Maria da Penha (11.340/2006) e, também, na Lei Antibaixaria, normativa
estadual registrada sob o número 12.573/2012.
Isto porque, segundo a Justiça, as músicas violam os direitos
das mulheres, contemplados nas Constituição Federal e na Constituição Estadual,
bem como na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres, tratado internacional aprovado em 1979, pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, e incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro.
Para a juíza Amanda Andrade, "chamam a
atenção as frases que veiculam palavrões direcionados ao sexo feminino e sugerem
uso de força contra a mulher, sem preocupação com o assentimento desta”.
A magistrada frisa, ainda, a título de exemplo, que “em
certos versos a mulher é xingada de 'filha da puta', 'safada', assim como o eu
lírico refere que 'bate, bate, bate', que 'surra, surra, surra' e bate com vontade'
em sua parceira".
Sendo assim, no entendimento da juíza, "o conteúdo das
canções, efetivamente, não se alinha com as ações públicas instituídas em favor
das mulheres, com relação às quais o ente federado possui o compromisso legal
de concretização".
Conforme o BN, a banda informou o cancelamento do show, que,
segundo assessoria de comunicação, aconteceria nesta sexta-feira (23), via
redes sociais. O vocalista da banda, Maurílio Andrade, lamentou o ocorrido. “Estou
um pouco triste, abalado, porque queríamos tocar no São João de Serrinha,
queríamos alcançar o maior público, nesse São João”, escreveu.
O líder do grupo O Erótico também afirmou que não estava
procurando culpados pela decisão. “Deus sabe o que faz”, disse.