Salvador e cidades da Região Metropolitana (RMS) se consolidaram como o principal epicentro de chacinas na Bahia, com 454 pessoas mortas em 124 ocorrências registradas entre 2022 e outubro de 2025. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado (IFC) e apontam um dado preocupante: em 85 desses casos — mais de dois terços do total — as mortes ocorreram em ações conduzidas por forças de segurança pública estaduais, resultando em 324 vítimas.
Apenas entre janeiro e 17 de outubro deste ano, a capital e municípios da RMS contabilizaram 109 mortes em chacinas, o que representa um aumento de 58% em relação ao mesmo período de 2024. Quando se observa apenas as ocorrências atribuídas à polícia, a alta é ainda mais expressiva: 85 pessoas morreram em 2025 nesses contextos, mais que o dobro do registrado no ano anterior.
Salvador lidera o levantamento, com 84 vítimas de chacinas em 2025. As ocorrências se concentram em áreas com alta vulnerabilidade social e forte presença de facções criminosas. Os bairros mais afetados são:
Fazenda Coutos – 16 mortes
Curuzu – 6 mortes
Rio Sena – 6 mortes
Fazenda Grande do Retiro – 4 mortes
Federação – 4 mortes
Na Região Metropolitana, Camaçari (14 casos), Lauro de Freitas (8) e Dias D’Ávila (3) também aparecem com números elevados.
O estudo destaca ainda que as chacinas policiais vitimam majoritariamente jovens negros. Entre os mortos identificados nessas ações, 100% são pessoas negras e 98% são homens. Adolescentes representam 5% das vítimas. Em parte das ocorrências, os assassinatos ocorreram dentro de residências (7%) ou em veículos (7%), conforme o IFC.
O professor de Direito Penal e Processual Penal Luciano Bandeira Pontes, ouvido pelo bahia.ba, avalia que o cenário de violência que atinge a RMS e outras regiões do estado reflete falhas estruturais do poder público.
“A Bahia já é um narco-Estado. É o estado com o maior número de facções atuando no Brasil. Há estimativas de 21 a 23 facções. Temos déficit de cerca de 15 mil policiais militares e pouca atuação nas fronteiras e rodovias”, afirmou.
Pontes defende que ações repressivas sem políticas de inteligência sólidas tendem a alimentar ciclos de violência e dificultar a redução dos indicadores criminais.
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que tem reforçado operações integradas com forças estaduais e federais, o que teria contribuído para uma redução de 6% nos registros de homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte em todo o estado.