A extrema-direita anda exultante. Depois da matança consumada há duas semanas no Rio de Janeiro, a turba se assanhou, julgando que garimpou o tema ideal para emparedar Lula e o petê. Logo de cara, pretendiam equiparar os crimes cometidos pelos integrantes das facções criminosas ao terrorismo. Banqueiros e a Faria Lima precisaram se mexer para adverti-los sobre as severas implicações econômicas da medida.
Recuaram, mas agora martelam a “bukelização” do Brasil como agenda eleitoral de 2026. A referência é a Nayib Bukele, que governa El Salvador – pequeno país da América Central – com mão de ferro. Lá, o encarceramento em massa se tornou a principal política do governo para combater as gangues que infestam o país.
Superlotação, detenções arbitrárias, desrespeito aos direitos humanos, suspensão de garantias individuais, menores encarcerados. Enfim, o endurecimento conduziu aos resultados já conhecidos. Mas houve impacto na redução dos homicídios e, até aqui, alega-se que a população aprova, embora El Salvador não se distinga muito das ditaduras que, frequentemente, assolam a América Central.
El Salvador é pequeno, com cerca de 6,6 milhões de habitantes. É, também, um país com extensão bem modesta: apenas 21 mil quilômetros quadrados, menor até que o estado de Sergipe. O Produto Interno Bruto (PIB) é compatível com o tamanho do país: só US$ 34 bilhões em 2023.
Implementar uma política de encarceramento em massa num país com essas dimensões é bem menos traumático e imprevisível que no Brasil, com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados, seus mais de 200 milhões de habitantes e sua economia enorme e diversificada. Mas, mesmo assim – implicações éticas à parte – a extrema-direita pretende recauchutar o modelo salvadorenho e adotá-lo.
Nestes tempos de incessantes cobranças sobre austeridade fiscal, fica a dúvida: quem arcaria com os custos do encarceramento em massa, das penas intermináveis, da contratação de mais guardas, mais armamentos e mais equipamentos de vigilância, da construção de mais e mais prisões? Quem bancaria a hipertrofia do Judiciário para julgar mais e mais processos?
Alguns desavisados sustentam que os presos deveriam trabalhar para se sustentar no cárcere. Tolice: a medida funcionaria mais como punição. Os custos com vigilância e a baixa produtividade contrariam qualquer justificativa econômica. Segue, portanto, a indagação: quem arcaria com os custos? A pergunta só deixa de fazer sentido para os lunáticos que defendem o extermínio em massa. Mas isso, obviamente, resultaria em imprevisíveis – e catastróficos – desdobramentos.
Enfim, a prosa está comprida e é preciso arrematá-la. Arremato-a com a pergunta que martela, persistente: quem arcaria com os custos da “bukelização”? É bom pensar direito sobre o assunto. Afinal, soluções simples não contemplam problemas complexos, como alardeia a insensata extrema-direita.