"Quantas árvores serão derrubadas na Getúlio Vargas?", quis saber o radialista Jorge Bianchi, do secretário de Meio Ambiente, Roberto Tourinho. O secretário não soube responder e recomendou que se perguntasse à secretaria de Planejamento, mais diretamente envolvida nos projetos para construção do BRT.
A entrevista, nesta segunda-feira, se deu em função de um protesto que ocorreu na avenida Getúlio Vargas domingo, iniciativa de um movimento que se intitulou “Atitude popular pela preservação da vida”.
Como antídoto à manifestação, a prefeitura divulgou nota ainda no sábado, para, em resumo, classificar como infundados os temores ambientais relativos à mais arborizada avenida da cidade. Nota assinada justamente pelo diretor de parques e jardins, Deodato Peixinho e pelo próprio secretário que não soube dizer quantas árvores serão retiradas.
Mais uma vez, como desde o começo, a comunicação errática do governo sobre o projeto só faz aumentar a desconfiança de quem olha de fora. Se nem o de dentro está suficientemente informado, como aceitar passivamente que tudo na verdade vai resultar no plantio de mais árvores, como alega o governo?
Para fazer a defesa, Tourinho usou o documento que há meses é de domínio público, um projeto paisagístico onde se diz que em todo o trajeto do BRT serão mantidas 1.464 árvores, retiradas 136, plantadas 352 pequenas, 145 médias e 9 grandes. Neste mesmo documento, não se especifica onde mesmo isto ocorrerá. “As pessoas não têm as informacoes necessárias”, disse Tourinho. Nem ele. E ao que parece, ninguém.
Contra o projeto do BRT às vezes são ditos absurdos monumentais. Mesmo assim, encontram alguns ouvidos sensíveis. O governo sempre colaborou para esta incompreensão (basta lembrar que o prefeito José Ronaldo e o secretário Carlos Brito chegaram a declarar que nenhuma árvore seria derrubada).
Ao se recusar a debater previamente uma intervenção dramática na principal via da cidade, o governo apostou na omissão da maioria.
O protesto de domingo foi pequeno. Outro já foi marcado para o próximo dia 9 de maio, um sábado. Se cair no gosto da população, vira no mínimo um risco político.
Foto de Ney Silva, do Acorda Cidade