O número de viaturas (de quatro rodas, sem contar as motos) usadas pelo patrulhamento da Polícia Militar em Feira de Santana, está em torno de 50, de acordo com o coronel Adelmário Xavier, que chefia o Comando de Policiamento Regional Leste desde 2013. No início deste ano, no entanto, com a progressiva redução devido a viaturas que iam quebrando e não eram repostas, a cidade chegou a ficar com apenas 15 veículos.
Ele deu a informação em entrevista hoje (14) no Jornal da Manhã, que apresento na Rádio Jovem Pan. “Só a partir de maio que a gente veio receber novas viaturas. Teve dia que a gente chegou a trabalhar com 15 viaturas na cidade. Porque estavam todas quebradas, velhas. De janeiro a maio foi diminuindo e chegamos a isso”, detalhou o comandante.
O coronel admitiu que a situação prejudicou o combate à criminalidade, já que mesmo as 70 de hoje (50 carros e 20 motos) não suprem a necessidade de uma cidade que ele calcula ter 10 mil ruas.
Em 2016, o número de homicídios ultrapassou o do ano passado. Os dados oficiais da PM indicam que até outubro de 2015 (a atualização oficial é trimestral) tinham ocorrido 234 assassinatos. Este ano o número em dezembro já passa de 300.
PRESOS COMANDAM DA CADEIA
O comandante da PM também lamentou a facilidade que os presos encontram de comandar o crime mesmo quando presos. Alguns dos bandidos, segundo ele, consideram até vantajosa a condição de presidiários.
“Em Feira grande parte do que acontece é comandado por pessoas de dentro do presídio. Em Conceição do Coité está acontecendo o mesmo. Um presidiário de Feira está fazendo isso lá. Não dá pra entender que você tira um delinquente de circulação mas ele não fica inoperante. Faz do presídio um escritório de suas ações de morte, de negociação do tráfico. Fica difícil. Eles dizem: aqui tenho quatro alimentações por dia, esporte, assistência médica e uma coisa que vocês não têm, que é segurança, porque o Estado tem obrigação de me garantir”, comenta o coronel.
Quando perguntado porque os presos têm tanta facilidade para usar celular no confinamento, Adelmário devolveu a pergunta. “Vamos convidar o diretor do presídio para ver o que ele diz?”.
Ele apontou ainda o impacto da crise econômica e a injustiça social como fatores determinantes para o grau de violência na sociedade. “O país passa um momento muito difícil de insegurança, incerteza, desemprego. A violência é consequência de tudo isso. Não poderia estar diferente. Se todo mundo tivesse emprego, escola, moradia, se todo mundo tivesse oportunidade, se não houvesse o desnível social, não teria violência. A gente discute muito violência e esquece de discutir as causas. É um país violento por isso”, assegurou.
PRECAUÇÕES
Adelmário chamou atenção para o fato de que o cidadão precisa tomar precauções. Criticou pessoas que agem como se a polícia fosse responsável por sua segurança particular. “Ela tem que proteger seu bem. O delinquente trabalha em cima da deficiência e do descuido de suas vítimas. Se eu não protejo o que é meu, o Estado não vai me ajudar a proteger. Tenho que proteger, dificultar a ação do delinquente e contar com ajuda do Estado”, recomendou.
O coronel chamou atenção para estatísticas que apontam que a produção de drogas no país atende somente 10% do consumo. Portanto o restante vem de fora do Brasil, o que implica na necessidade de maior controle das fronteiras, missão que é da Polícia Federal e do Exército.
Ele relata a prisão de uma pessoa presa com um caminhão carregado com três toneladas de maconha, da qual participou tempos atrás. “Quando o senhor faz uma apreensão dessa, de um caminhão, é porque entraram 500”, disse o delinquente desafiador.
O mesmo ocorre em relação a armas. “Em Feira se compra a arma que se quiser. Quanto mais a gente apreende mais entra arma na cidade”, criticou.
Segundo o comandante o número de flagrantes feitos pela PM subiu, assim como o número de apreensões de armas. São 1.700 flagrantes até o final de outubro e cerca de 400 armas.
“Fico com minha consciência tranquila, mas se perguntar “ tá resolvendo?”, digo que não, porque está entrando mais do que estou apreendendo”, reconhece.
Na entrevista ele abordou ainda os problemas de segurança nos condomínios do Minha Casa Minha Vida e as ações da PM no patrulhamento de escolas, no combate à violência contra a mulher e o uso de cães na detecção de drogas e no ataque a delinquentes.