A votação do projeto que aumentou o desconto dos servidores para a Previdência Municipal é só mais uma prova eloquente do grau de poder do prefeito José Ronaldo em Feira de Santana, sem que haja qualquer outra força a lhe fazer ao menos sombra.
Temos uma alegação de que há déficit. Não quero contestar sua existência. Não acredito que o governo fosse inventar o dado. Nem quero que a arrecadação municipal, já muito comprometida com o pagamento de salários, tenha que bancar também aposentadorias, mais do que já o faz, em detrimento das imensas necessidades que a cidade e a maioria de sua população possuem.
O que espanta é o quanto o debate é raso ou inexistente e com pouco esforço o governo aprova o que quer. Diz-se que há um déficit, mas não há um detalhamento. Houve apenas uma audiência pública, por convocação do vereador Roberto Tourinho, na qual compareceram técnicos do Instituto de Previdência e quase nenhum representante de quem vai pagar a conta.
Qual é o tamanho do déficit? Com o aumento escalonado de 2017 a 2019, quanto se vai arrecadar a mais? O problema fica resolvido ou logo adiante vai ter que mexer de novo? A intensa utilização pela prefeitura de mão de obra terceirizada, via cooperativas, é danosa à previdência, por limitar a entrada de novos contribuintes no sistema? Qual seria o impacto de transformar em servidores públicos efetivos esse batalhão de terceirizados? Nada disso se discute, nada se esclarece.
À oposição falta número, como é óbvio, mas faltam também argumentos (com a necessária ressalva da desenvoltura que vem sendo demonstrada pelo novato Zé Filé). Refiro-me aqui à oposição na Câmara, Mas onde estão Ângelo Almeida, Zé Neto e Fernando Torres? Ou acham que o tema não lhes diz respeito?
Arrancando concessões do governo municipal em Feira de Santana nos últimos anos, há somente a APLB, o sindicato dos professores. O problema é a mentalidade bélica de sua dirigente maior, Marlede Oliveira, adepta da concepção de que se pode sempre ganhar no grito.
Comportam-se, os professores, de forma mal educada, não deixam os vereadores falarem, sobem nas mesas, invadem plenário e na terça-feira, chegaram ao ápice da autodesmoralização, quando um membro do grupo — pelas imagens aparentemente instigado por outro que lhe fala ao ouvido — resolve que seria uma boa ideia arremessar uma cadeira contra o vidro que separa vereadores e público.
O que ele conseguiu foi aplainar o caminho para aprovação do aumento do imposto. E gerar a convocação de Marlede para depor na polícia. E ainda pode comemorar, porque poderia ter sido pior, caso o vidro tivesse se quebrado ou alguém tivesse se ferido com gravidade.
Um estilo bem diferente de José Ronaldo, que não gosta de briga e prefere cooptar todo que estiver disposto a passar para seu lado. Ele não tem culpa se seus poucos adversários apostam no confronto, mesmo perdendo sempre.