O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer, na manhã desta quinta-feira (7), que houve fraude nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, hipótese já refutada por autoridades norte-americanas e internacionais.
De acordo com o Uol, também sem provas, o chefe do Executivo nacional disse que o sistema brasileiro de votação eletrônica é fraudulento, teoria já descartada, no país. Estranhamente, desde que a urna eletrônica foi implantada no Brasil, em 1996, Bolsonaro já foi eleito cinco vezes deputado federal (1998, 2002, 2006, 2010 e 2014) e uma vez presidente (2018). Seus três filhos, Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, que atuam na política, também foram eleitos em votações eletrônicas.
O presidente deu as declarações em uma conversa informal com seus apoiadores, na saída do Palácio Alvorada. Também falou sobre a invasão do Capitólio, sede do Congresso norte-americano, por seguidores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Conforme o site, Bolsonaro insinuou que a insurreição ocorreu por causa de supostas irregularidades na eleição, tese que não se confirmou. A vitória de Joe Biden foi oficializada na madrugada de hoje, após a retomada da sessão de certificação.
Contrariando as autoridades eleitorais estadunidenses, Jair Bolsonaro repercutiu a infundada hipótese de que houve uma “festa” de votos irregulares, conjecturando que a “falta de confiança” no sistema de votação levou ao problema. “O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas, agora. Basicamente, qual foi o problema, a causa dessa crise toda: falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram um voto pelos correios por causa da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram, foi uma festa”, disse.
A fala do presidente brasileiro nada mais é do que o eco das alegações de Donald Trump, que, sem saída, acabou por prometer, hoje, que, mesmo não confiando no resultado da eleição, fará uma transição governamental “ordeira”, no dia 20 de janeiro, data em que o novo presidente assume o governo dos Estados Unidos.
Após a invasão do Capitólio, ontem (6), as redes sociais Twitter, Instagram e Facebook bloquearam as contas de Donald Trump, com a finalidade de evitar a disseminação de fake news. O presidente norte-americano travou uma verdadeira batalha jurídica, na tentativa de barrar a confirmação da vitória de Joe Biden, mas não obteve êxito.
Ontem, durante a sessão realizada, pelo Congresso, para confirmar a eleição do democrata, Trump inflamou apoiadores, ao afirmar que não aceitaria o resultado das urnas eleitorais. Após a invasão, pressionado e criticado por autoridades políticas dos Estados Unidos e do mundo inteiro, ele pediu calma aos seus apoiadores.
A ofensiva ao Capitólio deixou um saldo de quatro mortos, segundo a polícia de Washington. E tem sido visto como um ataque direto à própria Democracia. Dos líderes mundiais que se pronunciaram sobre o que aconteceu nos Estados Unidos, medindo, inclusive, as graves consequências do atentado para a estabilidade do Estado Democrático de Direito, em todos os países regidos pela garantia das liberdades civis, apenas Bolsonaro se manifestou na contramão, embora não oficialmente, já que tanto o presidente brasileiro quanto o Itamaraty seguem, institucionalmente, calados.
AMEAÇA – Traçando um paralelo com as eleições brasileiras de 2022 e insistindo que houve fraude na eleição de 2018, embora sem provas, Bolsonaro defendeu o voto impresso para o próximo pleito. E ameaçou: “se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos”, disse, sem deixar claro se se referia às cenas de violência vistas nos Estados Unidos.
Uma vez mais, o chefe do Executivo nacional atacou a imprensa, reiterando a intimidação. “Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 22, vai ser a mesma coisa. A fraude existe. A imprensa vai dizer 'sem provas, ele diz que a fraude existe'. Eu não vou responder esses canalhas da imprensa mais. Eu só fui eleito porque tive muito voto em 2018”, alegou.
Segundo o Uol, em março do ano passado, Bolsonaro chegou a dizer que apresentaria provas, “em breve”, de que teria sido eleito no primeiro turno, mas a promessa não foi cumprida. Desde as eleições de 2018, ele tenta emplacar a volta do voto impresso, apesar de nenhuma fraude ter sido comprovada com o uso das urnas eletrônicas.
Ao contrário do que aventa o presidente, as urnas eletrônicas são auditáveis. Cada dispositivo gera um boletim, que é fixado na seção eleitoral, ao fim da votação. Representantes de todos os partidos políticos podem, então, fiscalizar o processo eleitoral, durante a apuração dos votos.
O Uol lembra que não há qualquer evidência de que o método eletrônico seja suscetível a fraudes. As urnas são independentes e não integradas em rede, o que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), impede qualquer possibilidade de hackeamento.