Enquanto prossegue o pugilato midiático sobre a anistia aos golpistas do 8 de janeiro, o “Centrão” tenta tocar adiante sua famigerada reforma administrativa. De vez em quando, pipoca na imprensa uma proposta qualquer anunciada pelo relator: limitação dos supersalários, redução de férias do Poder Judiciário, avaliação de desempenho de servidores e por aí vai. Estão vindo à tona aquelas medidas pouco polêmicas, normalmente já muito repisadas.
O conteúdo integral da reforma, porém, ainda não apareceu lá na Câmara dos Deputados. Estabelecem-se prazos, que vão sendo prorrogados, sem muita clareza sobre o que se pretende. Tudo indica que desejam aprová-la no afogadilho, sem muito tempo para discussões ou contestações. Não é a primeira vez que manobra do gênero é tentada.
Há, contudo, empecilhos à frente. Um deles é a própria discussão da anistia de Jair Bolsonaro, o “mito”, e de seus acólitos. O assunto interditou o Congresso Nacional, que canaliza suas energias em busca de uma solução que favoreça a claque golpista. O segundo é que, aos poucos, o ano caminha para o final e, em 2026, acontecem eleições. Impopular, uma reforma administrativa tem menos chances de ser aprovada às vésperas das eleições.
Embora o conjunto da obra não tenha vindo à tona, não é difícil deduzir que Ongs financiadas por banqueiros e grandes empresários estão inspirando as propostas que são anunciadas a conta-gotas. Caso a reforma prospere, o Estado terá um funcionalismo com perfil de empregados de empresas privadas, por um lado; pelo outro, lembrarão trabalhadores do onguismo patronal. Engrossando o caldo, os cabos-eleitorais vinculados aos políticos.
Tudo é justificado, todavia, com as melhores intenções. É necessário garantir agilidade e eficiência ao serviço público; o foco deve ser nos resultados; os custos com o funcionalismo cairão; haverá uma métrica para avaliar desempenho e – suprema bondade! - estão previstos bônus por desempenho.
Enfim, o cardápio das sugestões é inspirado pelas Ongs do bilionário empresariado. É claro que, no Congresso Nacional, haverá um tempero adicional para favorecer indicações dos felizardos amigos dos políticos. Neste jogo de ganha-ganha entre empresários e políticos, perde o serviço público. E o povo brasileiro.