Vivemos tempos de uma desumanização brutal — ou ela é a
mesma de sempre, mas com voz nas redes — que vibra com o câncer de um
adversário, o tiro na orelha, a facada, a bala fatal de rifle no pescoço. Pessoas de nível intelectual diferenciado
celebram como um selvagem primitivo diante de sua caça — o animal em vantagem
porque se move apenas pela fome — sem o menor pudor, receio ou nojo de si
próprio. Ouvi gente dizer que o que morreu 'já tinha ido' e que o preocupante
era existirem milhares como ele. O horror, o horror — para lembrar Conrad, em O
Coração das Trevas — não tem privilégio ideológico. Gente de ambos os lados
comandaria, sem ruborizar, o totalitarismo, campos de extermínio e fuzilamentos
de adversários, jogando os corpos com uma carregadeira em 'uma vala comum',
como disse um certo político recentemente. A esquerda, no entanto, o faz alegando ser uma virtude, unindo a
miséria moral ao cinismo pessoal e de sua ideologia.
A democracia é a vítima do estupro validado pela causa, como
se suas vestes fossem a culpada e a razão que autoriza a violência. Na verdade,
a violência está dentro de cada um que busca na motivação de fora a libertação
da falta de empatia e moral pantanosa que carrega em si. O adversário deve ser
combatido, desgastado, confrontado, enfrentado, não eliminado fisicamente. A
nossa luta deve ser constante para que escolhas mentais doentias não nos
contaminem. Diante do abismo do ódio, devemos fincar os pés e resistir a essas
ações, a esses aplausos que justificam que o outro lado faça a mesma escolha e
execute a mesma violência. O que desejo a um adversário valida reação igual de quem discorda de mim. Não é uma escolha
puritana ou fácil, mas um exercício que é exigido de todas as nossas forças
para que existamos em sociedade e para que nossa própria existência tenha algum
significado!