Em Feira de Santana, a realidade do saneamento básico revela falhas estruturais graves e persistentes. Mesmo sendo a segunda maior cidade da Bahia, com mais de 600 mil habitantes atendidos pela Embasa, a cobertura de esgotamento sanitário está bem abaixo do necessário.
Segundo dados recentes, apenas cerca de 64% da sede urbana de Feira de Santana possui rede de coleta de esgoto. Isso significa que mais de um terço da população urbana ainda vive sem acesso a um sistema formal de esgotamento — uma condição que impõe sérios riscos à saúde pública, à dignidade dos moradores e ao meio ambiente.
Para efeito de comparação, no ranking de saneamento de 2025 do Instituto Trata Brasil, Feira de Santana ocupa a 72ª posição, enquanto Vitória da Conquista aparece em 23º lugar — um indicador de que a cidade baiana está atrasada na universalização do saneamento.
A carência de cobertura de esgoto é um sintoma de negligência histórica com um direito básico: o saneamento. Em diversos bairros, há denúncias de lançamento de dejetos em redes pluviais ou diretamente em rios e córregos .
Dados de 2023, fornecidos pelo Sindicato das Indústrias de Água e Saneamento (SINISA), dão uma dimensão mais ampla do cenário. Nessa pesquisa, constam os seguintes indicadores para Feira de Santana:
Abastecimento de água: cerca de 90,7% da população total tem acesso ao serviço de água encanada; esgotamento sanitário formal (coleta pública): apenas 54,3% da população total está atendida. Formas de descarte de esgoto entre o restante da população: 63,8% usam rede geral, rede pluvial ou fossa ligada à rede; 16,6% dependem de fossa séptica ou filtro não ligado; e 17,5% ainda dependem de fossas rudimentares ou de sistemas precários.
Essa disparidade evidencia que uma parcela significativa da população — especialmente em áreas periféricas ou menos favorecidas — sobrevive com soluções precárias ou improvisadas para descarte de dejetos, expondo moradores a doenças de veiculação hídrica, poluição ambiental e condições indignas de moradia.
Em junho de 2025, o governo estadual autorizou uma licitação para obras de expansão do sistema de esgotamento sanitário nas regiões da Avenida Artêmia Pires e em distritos da zona rural, com um plano ambicioso de investir cerca de R$ 1,3 bilhão até 2050 — com o objetivo de universalizar o saneamento no município.
Expandir a cobertura de esgoto em Feira de Santana não é apenas uma questão de infraestrutura: é uma questão de justiça social, de saúde pública e de respeito aos direitos humanos.