O escândalo do Master não se limita à podridão de Daniel Vorcaro, um desses sujeitos inescrupulosos que vicejam nas franjas do poder, junto com seu sócio na Bahia — onde, aliás, o caso começou com o Credcesta e a amizade com políticos baianos. A sua técnica pode ser resumida em desviar e comprar proteção política e judiciária.
Com a quebra e a rápida prisão de Vorcaro, todo um sistema
começou a ser exposto. Corretoras que indicaram títulos podres do Master
embolsaram lucros e terceirizaram prejuízos. "Quem investiu mais de R$ 250
mil não poderá apelar ao Fundo Garantidor de Créditos para reaver o
dinheiro".
Os políticos da bancada de Vorcaro também sumiram, em
especial o sempre enrolado senador Ciro Nogueira. Os governadores Cláudio
Castro e Ibaneis Rocha não explicaram por que a Rioprevidência e o BRB
investiram dinheiro no banco apodrecido. Aliás, o BRB pretendia comprar o
Master, um negócio que enriqueceria muita gente. O governador Ibaneis Rocha, em
seu segundo mandato e desconsiderando os eleitores, precisa explicar essa
escolha.
Na semana passada, estranhamente, o ministro Jhonatan de
Jesus, do Tribunal de Contas da União, surpreendeu ao questionar a liquidação
do Master, tentando envolver o Banco Central como suspeito na história.
Agora, o vespeiro começou a pairar sobre o Supremo Tribunal
Federal. O colunista Lauro Jardim revelou que o ministro Dias Toffoli viajou de
jatinho com o advogado de um diretor do banco antes de decretar sigilo total
sobre as investigações — mas, graças a Deus, ele disse que falaram apenas sobre
o Palmeiras, apesar de suas ortodoxas medidas nesse caso.
Depois, a colunista Malu Gaspar informou que o Master fechou
um contrato de R$ 3,6 milhões mensais com o escritório de Viviane Barci de
Moraes, esposa de Alexandre de Moraes, totalizando R$ 120.000.000. Esse
contrato é muito acima do padrão de qualquer banca, especialmente com uma
advogada de currículo escasso. O contrato foi mostrado, mas há torcedores
apaixonados que o negam, apesar de nem mesmo os contratados o fazerem. É
incrível a dissonância cognitiva que alguns vivenciam. Malu noticiou, ainda,
que o ministro teria tratado do Master com o presidente do BC, Gabriel
Galípolo.
Os dois confirmaram as reuniões, mas afirmaram que apenas
debateram a Lei Magnitsky, apesar das incoerências que já surgiram.
Um ministro do STF não deveria se reunir com o presidente do
BC quando sua esposa tem um contrato com um banco podre, sob intervençaõ do
BC, um contrato, aliás, “como nunca
antes na história deste país”. O bom senador Alexandre Vieira (SE) disse que
vai coletar assinaturas para uma CPI sobre o Master e, por isso — assim como
Malu — já está sendo atacado. Uma podridão que envolveu tanta gente poderosa
não costuma cair facilmente. Como ensinava Tomasi di Lampedusa em "O
Leopardo", talvez o “sistema” sacrifique uma peça ou outra para que
políticos, banqueiros, advogados e ministros do STF sigam em frente, fingindo
que algo mudou para que tudo continue como antes.