Fiscais mantém um grupo no Whatsapp pelo qual pressionam os clandestinos a pagar
O transporte clandestino está sendo praticado em Feira de Santana com a ajuda de quem deveria fiscalizar para impedi-lo. Em troca de dinheiro, os fiscais que trabalham para a empresa de segurança P&K, que faz a fiscalização terceirizada para a prefeitura, fazem vista grossa para os veículos clandestinos.
São os próprios fiscais que dizem isso, em conversas em grupo de Whatsapp, obtidas pela produção do programa Linha Direta, na Rádio Sociedade AM. Por meio de um grupo no aplicativo de celular, eles fazem cobranças, queixas e ameaças contra quem reclama do pagamento.
Nas gravações exibidas no programa, não foram mencionados valores, mas as fontes dos jornalistas informaram que são cobrados em torno de R$ 15,00 por dia ou R$ 50,00 por semana. Um dos envolvidos no esquema é identificado, mas apenas pelo pronome.
As gravações teriam vazado porque os clandestinos estão se sentindo muito pressionados pelo esquema de extorsão. Numa das gravações fica claro o clima de insatisfação, porque o fiscal cobrador de propina se mostra irritado e chama de “rebanho de pilantra mal agradecido” quem está reclamando. E questiona se não seria muito mais caro se as placas fossem anotadas e repassadas à PM, que é quem tem o poder de polícia para fazer as apreensões e até mesmo prisões em blitz. Este homem, não identificado, pergunta quanto vale a omissão dos que recebem ordens “do major e do capitão” pra anotar as placas, mas não cumprem.
A Secretaria de Transportes é comandada pelo major Ebenezer Tuy e tem o capitão Demerval em cargo de chefia, sempre à frente de fiscalizações contra clandestinos.
Ouça a gravação abaixo:
Pelo tom das conversas percebe-se a intensidade da pressão pelo dinheiro da propina.
"Vamos se acertar aí, vamos trabalhar certo pra não dar errado", diz o corrupto no fim de um trecho apresentado no Linha Direta.
Antes ele pede pressa porque vai viajar no feriado (a mensagem tem data do sábado do feriadão da Independência).
Um outro ameaça "cortar" quem não está sendo pontual no pagamento.
A mesma voz identifica como "Cláudio" alguém que iria receber o dinheiro de quem roda no ponto do Nordestino.
SINDICÂNCIA
O major Tuy, secretário de Transportes, não se mostrou nem um pouco alarmado com as gravações. Ao contrário, tratou como coisa de rotina, acrescentando que periodicamente troca o pessoal da fiscalização.
"Há dois meses nós trocamos praticamente 90% da equipe da fiscalização", informou o secretário.
O grupo de fiscais de transporte é formado de pessoas do próprio quadro da Secretaria e também de terceirizados da empresa P&K.
A prefeitura ressalta que as irregularidades denunciadas envolvem indivíduos contratados para prestação de serviço temporário, "que formam a maioria da equipe".
A nova denúncia, completou o major, está sendo apurada em sindicância. Ebenezer Tuy gosta de enfatizar que a prefeitura combate o transporte clandestino. Na semana passada o assunto foi tema de matéria postada no site da prefeitura. A foto que ilustra esta matéria, de veículos apreendidos, foi distribuída nesta ocasião.