Os avanços da
medicina constituem uma das mais brilhantes histórias de progresso de nossa
civilização. Partindo da observação, crendice, feiticismo, fé, mitologia,
chegamos a uma era de conhecimento genético, celular, molecular, extremamente
profundos, que permitiram revoluções no tratamento de doenças e a ampliação da
expectativa de vida. Decifrar o genoma, criar órgãos artificiais, produzir
vacinas que erradicaram doenças de letais, tornar os transplantes uma
alternativa segura, substituir o rim por uma máquina de diálise, dar a luz a um
bebê de proveta, fazer cirurgias robóticas, ou permitir a sobrevivência de um
recém nascido com 212 gramas- o peso de uma maçã- são exemplos dos milagres do
cotidiano já produzidos.
Desde que
Hipócrates mudou a história da arte médica, dando-lhe caráter cientÃfico e um
juramento ético, fizemos uma viagem incomparável pelo conhecimento em busca da
melhor evidência para o ato médico. Não
podemos negar, no entanto, as transgressões, violações motivadas pelo poder, dinheiro,
fraqueza moral. Estas falhas não são da
medicina, per si, mas da mirÃade
diversa que é o humano. Longe, no entanto, de ser a maioria. Ao contrário, é
uma minoria que merece a lei e o repúdio dos que tem dignidade
profissional.
Vivemos uma era
de desafios. A ampliação desenfreada de escolas, cursos em regime de feira
livre em paÃses vizinhos, ausência de avaliação continuada que separe o joio do
trigo, trará consequências e riscos. Temos
outros desafios como estabelecer limites éticos a uma série de procedimentos surgidos
com o desenvolvimento da tecnologia e da biologia, e como fazer para que os avanços que salvam vidas não fiquem
restritos a uma parcela da população com maior poder econômico, tornando ainda
mais evidente e cruel nossas diferenças
sociais.
A recente e
devastadora pandemia tornou claro o papel transcendental do médico em um mundo
que perde fronteiras e que irá viver uma era de epidemias. A vitória, apesar de
tantas vidas perdidas, foi um ato magnÃfico da ciência, de coragem, de resposta
a um chamado de algo não palpável, mas real, que é o compromisso moral, ético,
humano, do médico, com a profissão e a vida alheia. Foi monumental e um dos
momentos mais dignos de nosso ofÃcio.
Ao tempo que
reverencio os que lutaram- inclusive os que perderam a vida- reforço nossa
necessidade de qualificarmos o ensino técnico, de metodologia, e a exigência de
profissionalismo, que permeia nossa atividade.
Os médicos precisam ser maximamente eficientes e minimamente invasivos Ã
integridade fÃsica, econômica, e afetiva do paciente. Só assim poderemos honrar a imensa obra já
construÃda e continuar carregando nos ombros o universo gigante da medicina e
da vida humana.