O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nesta quarta-feira (26), a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil e o aumento da taxação para altas rendas.
A medida, que foi uma das principais bandeiras de campanha de Lula nas Eleições de 2022, começa a
valer a partir de janeiro de 2026 e deve beneficiar mais de 15 milhões de
brasileiros.
Discursando sobre justiça social e
combate à desigualdade, Lula destacou que não existe “sociedade igualitária”,
mas afirmou que é necessário governar para aqueles que precisam do Estado.
O presidente reafirmou, ainda, que
o crescimento econômico do país tem por base o consumo da população. “A economia não cresce por conta do
tamanho da conta bancária de ninguém, a economia cresce por conta do consumo
que a sociedade pode ter a partir dos alimentos”, observou.
Para Lula, a medida não empobrece ninguém. “O rico não fica
mais pobre. Se o pobre consome mais, o rico vai ficar mais rico. O rico vai
vender mais carne, mais roupa, vai vender mais carro. É isso que as pessoas
precisam compreender para se fazer economia”, ponderou.
O presidente voltou a repetir uma
frase recorrente em seus discursos, a de que “muito dinheiro na mão de poucos
significa miséria, mas pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição
de riqueza”.
A explicação é simples, enfatizou. “Se você pegar R$ 10
milhões e der para uma pessoa, aquele dinheiro vai virar uma conta bancária e
ele vai viver de juros. Pega esses R$ 10 milhões e divide para mil pessoas;
aquele dinheiro vai virar alimento, roupa, caderno, vai virar alguma coisa que
faz a economia circular e é isso que faz a economia crescer”, apontou.
Aprovada pelo Congresso Nacional por
unanimidade, a nova lei estabelece descontos no imposto para pessoas que ganham
entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350. Atualmente, a isenção do IR alcança apenas quem
ganha até dois salários mínimos.
Dos novos beneficiados, 10 milhões deixarão de pagar o
tributo e 5 milhões terão redução no valor devido. Especialistas afirmam que a lei tem potencial redistributivo. Isto porque
aumentará o consumo das famílias, poderá diminuir o endividamento e impactará
positivamente no crescimento da economia.
Na prática, a nova isenção terá impacto na declaração do
Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) de 2027, ano-base 2026.
Tabela do IR – Não houve, contudo, uma
correção da tabela do IR, apenas a aplicação da isenção e descontos para essas
novas faixas de renda. Segundo cálculos do Governo Federal, uma eventual correção
de toda a tabela custaria mais de R$ 100 bilhões por ano. Então, mesmo com a nova lei, quem
ganha mais de R$ 7.350 continuará pagando 27,5% de Imposto de Renda.
Atualmente, a tabela do IR acumula
defasagem média de 154,67% de 1996 a 2024, segundo o Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A última correção parcial em
todas as faixas de renda ocorreu em 2015.
Desde 2023, o governo tem garantido a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até dois salários
mínimos, mas isso só beneficia a faixa inferior da tabela. No total, a tabela
tem cinco alíquotas: de zero, 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%.
Mais ricos – Para
compensar a perda de arrecadação, o texto prevê uma alíquota extra progressiva
de até 10% para aqueles que recebem mais de R$ 600 mil por ano (R$ 50 mil por
mês), cerca de 140 mil contribuintes. Para quem já paga 10% ou mais, nada muda.
Hoje, contribuintes pessoas físicas de alta renda recolhem, em
média, uma alíquota efetiva de 2,5% de IR sobre seus rendimentos totais,
incluindo distribuição de lucros e dividendos. Enquanto isso, trabalhadores em
geral pagam, em média, 9% a 11% de IR sobre seus ganhos.
Alguns tipos de rendimentos não entram nessa conta, como
ganhos de capital, heranças, doações, rendimentos recebidos acumuladamente,
além de aplicações isentas, poupança, aposentadorias por moléstia grave e
indenizações.
A lei também estabelece limites para evitar que a soma dos
impostos pagos pela empresa e pelo contribuinte ultrapasse percentuais fixados
para empresas financeiras e não financeiras. Caso isso ocorra, haverá
restituição na declaração anual.
A nova lei também define a
tributação para lucros e dividendos remetidos para o exterior com alíquota de
10%.
Haddad – O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que essa é uma lei neutra, do ponto
de vista fiscal, já que o “andar de cima” vai pagar pela compensação. “Quando se fala em ajuste de conta,
todo mundo arrepia e com razão, porque todas as vezes que se fez um ajuste nas
contas, se fez no lombo dos mais pobres”, disse.
O gestor explicou que, desta vez, o governo fará diferente. “Esse
projeto é neutro, do ponto de vista fiscal. Mas tudo que nós fizemos para ajustar
as contas e que causa certa revolta em algumas pessoas, é que o andar de cima
foi convidado a fazer o ajuste. Não foi o andar de baixo”, destacou.
*Com informações da
Agência Brasil.