Cuidar-se durante toda a vida é a chave para um envelhecimento saudável - Tribuna Feirense

Tribuna Feirense

  • Facebook
  • Twiiter
  • 55 75 99801 5659
  • Feira de Santana, quinta, 28 de março de 2024

Saúde

Cuidar-se durante toda a vida é a chave para um envelhecimento saudável

Karoliny Dias - 16 de Agosto de 2019 | 16h 33
Cuidar-se durante toda a vida é a chave para um envelhecimento saudável
Foto: Reprodução

É na terceira idade que o ser humano se torna mais frágil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a expectativa de vida do brasileiro cresceu três meses e 11 dias de 2016 para 2017, chegando a 72 anos e cinco meses, para os homens, e a 79 anos e quatro meses, para as mulheres. O estudo foi publicado, pelo órgão, em novembro de 2018.

É considerada idosa toda a pessoa com mais de 60 anos. O país está envelhecendo e a pirâmide social mostra que a expectativa de vida do brasileiro aumenta a cada dia. Com isso, surgem também os problemas. Um deles diz respeito à saúde. Resta saber se as políticas públicas acompanham esse crescimento da expectativa de vida.

O Estatuto do Idoso, sancionado em 2013, diz que todo indivíduo acima de 60 anos tem direito a atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde (SUS). Portanto é obrigação do Estado garantir, ao idoso, assistência à saúde, prioridade no atendimento, além de fornecer medicamentos e próteses, se necessário, para a sua recuperação e reabilitação, desenvolvendo uma política de prevenção, a fim de que a população envelheça mantendo um bom estado de saúde.

A geriatra Janaína Almeida Silva diz que o avançar da idade traz riscos para a saúde. Segundo ela, com o envelhecimento, há uma mudança no metabolismo do indivíduo. “O organismo passa a funcionar diferente de quando jovem. Há uma redução da massa óssea, da massa muscular, um aumento do tecido adiposo e alteração do percentual de água, no organismo. Tudo isso faz com que o idoso esteja mais suscetível a quedas e infecções. O coração também está envelhecido, mesmo não havendo problema cardíaco. Como a deglutição não está tão preservada, existe risco de disfagia (dificuldade de engolir) e de broncoaspiração (infiltração de partículas alimentares, fluidos da orofaringe ou conteúdos gástricos em vias aéreas inferiores, podendo desencadear pneumonia infecciosa, pneumonite química e síndrome da angústia respiratória)”, elenca, salientando que, em função disso, o idoso deve ter maior prudência, no seu dia a dia.

Diabetes, hipertensão, catarata, osteoporose, glaucoma e, no caso dos homens, a hiperplasia prostática benigna são doenças prevalentes na senilidade. O processo de envelhecimento também eleva o risco de infarto e de Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença que pode incorrer na dependência do idoso, caso haja sequela grave, como a imobilidade parcial ou total.

Para evitar quedas, a geriatra enfatiza que a principal ação deve ser a prevenção. Para os idosos acamados, é recomendada a proteção do leito, com a instalação de grades. Também é necessário travar a cadeira de rodas, na hora de realizar a transferência ou o manuseio. Mas os idosos que têm uma rotina normal também precisam de cuidados especiais. Usar calçados confortáveis, seguros e com proteção antiderrapante é essencial. É preciso atenção também ao caminhar. Os idosos devem ter cautela na hora de dar as passadas, a fim de não tropeçarem. Outra preocupação é a circulação em vias públicas, já que as ruas brasileiras, de modo geral, não são adequadas para receber a terceira idade.

Janaína Silva afirma ainda que as principais causas de morte, em idosos, são as doenças dos aparelhos circulatório e respiratório e as neoplasias. Ainda assim, ela diz que as informações não podem ser generalizadas, porque existem idosos que se cuidam e envelhecem com saúde. “Já vi idosos que, com 80 anos, ainda dirigiam. Cabe a cada um fazer a sua prevenção. Existem medidas preventivas para evitar que doenças prevalentes nessa faixa etária aconteçam ou, pelo menos, que sejam diagnosticadas o quanto antes. Daí a Importância de se fazer exames rotineiramente, a fim de descobrir essas patologias no início e tratá-las de forma que o idoso continue com a sua independência e funcionalidade preservadas”, observa.

Na casa dos idosos, a geriatra ressalta que é interessante ter rampas de acesso, com instalação de piso antiderrapante, para que os degraus sejam evitados. No banheiro, os cuidados precisam ser redobrados: é imprescindível instalar barras e suportes dentro e fora do boxe. Essas medidas são importantes, porque os equipamentos servem de apoio, quando há a necessidade de abaixar ou em situações de vertigem e desequilíbrio. “A tontura, no idoso, é mais comum do que se imagina”, lembra a médica.

Outro fator importante, segundo a geriatra, é não estimular o medo nos idosos. “Vemos muitos deles com medo de andar, para não cair. A família também tem medo dessa queda e transmite isso para o idoso. É necessário tentar preservar, ao máximo, o que ele tem de independência, mas, claro, de uma forma segura”, orienta.

VIDA SAUDÁVEL – Para envelhecer com saúde, é preciso adotar uma rotina saudável a vida inteira. “Temos que ser adultos conscientes, com hábitos alimentares saudáveis, evitando excessos, abuso de frituras e de bebidas alcoólicas e outros vícios, como o tabagismo, além de fazer atividade física regularmente. Temos, ainda, que visitar, assiduamente, o médico, para nos assegurarmos de que a saúde está em dia”, sugere.

Janaína Silva faz um alerta, também, sobre as doenças neurodegenerativas, como é o caso do Alzheimer, do Mal de Parkinson, da Hidrocefalia de Pressão Normal e da Paralisia Supranuclear Progressiva. “Infelizmente, essas doenças acometem os idosos de forma irreversível, mas há tratamento, no sentido de retardar a evolução delas, preservando, o máximo possível, a independência dos pacientes. São enfermidades difíceis, principalmente, para as famílias, porque os pacientes esquecem esposas, filhos e demais parentes, além de perderem a noção do que está acontecendo com eles. As famílias sofrem vendo seus entes queridos nesse estado, não lembrando sequer de suas histórias”, explica.

Nesse contexto, a geriatra salienta que é importante a atuação de uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, a fim de manter ativas as funcionalidades e cognições dos pacientes que ainda estejam preservadas, estimulando-os o máximo possível. “Por isso a terapia ocupacional é muito importante na vida do idoso, desde o início de sua senilidade”, assevera.

REDE MUNICIPAL – Isabela Costa Soares, mestra em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social, é responsável pelo setor de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, da Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana. Ela afirma que os idosos feirenses contam com as Unidades Básicas de Saúde. “Lá, eles podem realizar consultas ambulatoriais, com enfermeiros e médicos; atendimentos individuais com nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistente social, educador físico e farmacêutico”, enumera.

Conforme a gestora, quando necessário, o órgão também realiza o encaminhamento dos idosos para especialistas médicos, como, por exemplo, o geriatra, e para clínicas conveniadas, fisioterapeutas e até mesmo para a realização de exames de imagem. “Vale ressaltar, também, que todas as Policlínicas e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do município atendem idosos”, completa.

Isabela Soares diz que visitas domiciliares também são realizadas com frequência. Para os idosos que estão internados nos próprios domicílios, ela enfatiza que também existe atendimento. “Temos a equipe do Melhor em Casa, que presta assistência domiciliar aos idosos, com total critério. A equipe é composta por médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social e nutricionista”, observa, salientando que também é feita a vacinação tanto dos idosos que procuram as unidades de saúde quanto daquelas que estão acamados. “Vamos até seus domicílios”, frisa.

A coordenadora observa que, pelo menos três vezes ao ano, os profissionais da Atenção Básica são capacitados para realizar o atendimento da pessoa idosa, de forma qualificada, de modo a prestar uma assistência longitudinal. “No momento, o Município está recebendo consultoria e os profissionais de saúde estão sendo capacitados, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital Albert Einstein, com a finalidade de implementar uma linha de cuidado para a Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa no Sistema Único de Saúde (SUS)”, destaca.

SAÚDE MENTAL – Em termos de hospital, a gestora diz que o referencial, para Feira de Santana, é o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), administrado pelo Governo do Estado. Mas a saúde mental também é importante, na terceira idade. É comum associar o envelhecimento ao aumento de problemas e de males apenas físicos. Entretanto os transtornos mentais mais comuns, na terceira idade, segundo a geriatra Aline Thomaz, são: depressão, transtornos de ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia e demência, sendo esta última resultante, principalmente, do Alzheimer e da Demência Vascular. “Experiências de vida (trauma ou abuso), fatores biológicos e genéticos, fatores externos típicos da vida moderna (como o estresse), problemas familiares e luto por perdas de pessoas próximas, além da frustração por não poderem mais realizar algumas atividades que antes faziam parte do seu dia a dia, são alguns dos aspectos que podem favorecer o aparecimento das doenças psíquicas”, alerta a médica.

Em Feira de Santana, existem psicólogos em todas as Equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). São eles que dão suporte aos idosos nessas unidades. “As consultas ocorrem na própria unidade de saúde, em horários agendados. Afora isso, temos psicólogo no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), também com demanda agendada”, informa Isabela Costa.

REDE ESTADUAL – A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirma que dispõe  do Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso. “A unidade atende pacientes idosos, de forma referenciada, encaminhados por unidades básicas de saúde e oferece a eles diversos serviços, como exames e consultas com especialistas”, garante.

Sobre o atendimento psicológico, o órgão diz que o suporte é feito, essencialmente, na rede municipal, nos Centros de Atenção Psicossocial. “Nas unidades hospitalares da Secretaria da Saúde do Estado, quando os pacientes, independente da idade, necessitam de acompanhamento psicológico, os profissionais prestam assistência. Da mesma forma, ocorre na internação domiciliar”, explica.

PREVENÇÃO – A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou, durante o Congresso Internacional de Osteoporose e Doenças Osteometabólicas, as principais estratégias para garantir a autonomia dos mais velhos e preservar a qualidade de vida. As medidas, que servem para preservar a chamada capacidade intrínseca das pessoas mais velhas, foram expostas pela médica Islene Araujo de Carvalho. O objetivo é reduzir, em 15 milhões, o número de idosos dependentes de terceiros, até 2025.

Islene Carvalho esclarece que capacidade intrínseca é o conjunto de habilidades físicas e mentais das pessoas, que garante a autonomia e o bem-estar. A primeira ação é a de melhorar a função musculoesquelética, a mobilidade e a vitalidade. E isso acontecerá com a prática de exercícios físicos, sob a orientação profissional, e com uma boa alimentação. A segunda é manter as capacidades de enxergar e ouvir em bom estado. Muitos idosos acabam perdendo audição ou visão por causa de algumas doenças, como a diabetes ou por infecções de ouvido. Com essas funções em ordem, fica mais fácil dar conta das tarefas do dia a dia. E evitar quedas ou tropeções, que, às vezes, incorrem em consequências sérias.

É preciso ainda, conforme a médica, evitar as quedas, porque, na maioria das vezes, elas resultam em ossos quebrados. Islene Carvalho alerta que fraturas no quadril ou no fêmur estão entre as grandes causas de perda da independência. E podem levar, inclusive, à morte. Também é necessário, segundo ela, cuidar de problemas relacionados à idade, como a incontinência urinária. “A OMS chega a mencionar, diretamente, a incontinência urinária, pelo fato de ela, não raro, isolar seus portadores em casa. Além disso, a perda de urina faz o indivíduo se apressar para ir ao banheiro, o que facilita tropeços e, consequentemente, fraturas”, destaca.

Déficits cognitivos e demências também devem ser prevenidos, promovendo o bem-estar psicológico. “Quando a cabeça não está legal, fica complicado cumprir quaisquer afazeres. Demência, depressão e outras enfermidades do tipo merecem um olhar cuidadoso. Não pense que a perda de memória e a melancolia são naturais da idade”, alerta a médica.

A última ação, ainda segundo Islene Carvalho, é dar apoio aos cuidadores. “Um profissional treinado e disposto aumenta muito as chances de restabelecer as forças de um idoso que passou por algum entrevero. Por outro lado, um atendimento inadequado chega a agravar o problema”, finaliza.



Saúde LEIA TAMBÉM

Charge da Semana

charge do Borega

As mais lidas hoje