Em entrevista à imprensa feirense na manhã desta quinta-feira, o comandante geral da PM, coronel Anselmo Brandão, deu uma declaração infeliz e ao mesmo tempo reveladora sobre a visão que impera entre governantes baianos sobre o interior.
Diante da previsão de uma visita do governador para uma reunião com a cúpula da segurança pública a ser realizada na próxima semana em Feira, um repórter quis saber se Rui Costa faria o anúncio de uma alguma novidade para a cidade no setor.
“Acredito, acredito. Acho que a grande novidade só a presença dele aqui. Novidade melhor do que essa, o governador estar presente aqui com todos os chefes em Feira de Santana? Acho que é um fato assim inusitado na história de Feira estar todo o sistema de defesa social, junto com o governador do estado. Vocês terem a oportunidade como radialistas de estar perto das maiores autoridades do estado pra falar e dizer alguma coisa pela região de Feira de Santana”.
Ou seja, para o comando da PM, uma visita do governador e da cúpula da segurança a uma cidade que está entre as mais violentas do mundo e que chegou a ter ano passado apenas 15 viaturas para atuar na proteção de uma população superior a 600 mil pessoas, não é uma obrigação. É um privilégio, um fato histórico, a ser comemorado e que eventualmente esgota-se em si mesmo. Afinal, o que mais podemos querer, depois de agraciados com tamanha honra?
Diga-se por sinal em defesa de Rui Costa que sua presença física em Feira e em todo o interior é constante. Em quantidade é satisfatória. Em qualidade é discutível, já que o interior tem carências maiores que a capital embora os investimentos do estado em Salvador sejam muito mais vigorosos, em função da disputa política com o prefeito ACM Neto.
Se Rui, entretanto, seguindo a linha já adotada por Jaques Wagner desloca-se com frequência para o interior, o mesmo não se pode dizer de sua equipe, do seu primeiro escalão. Este vive encastelado em Salvador, pouco atuando no resto deste imenso território baiano, maior que a França. E tanto se isolam que acreditam que uma reunião fora de Salvador pode ser um marco na história da cidade que a recebe.
Jamais seria leviano de não reconhecer a utilidade do Hospital Estadual da Criança. Qualquer vida salva é de uma importância infinita e claro que ao longo de seus anos de funcionamento ele já tem desempenhado um papel crucial na sobrevivência de muitas crianças e adolescentes.
Agora é inaceitável também que a instituição faça um atendimento tão aquém da demanda que um paciente comoPedro Lucas esteja esperando desde o terceiro dia de vida até os cinco anos de idade por uma cirurgia para solucionar uma questão grave.
O hospital alega ter grande demanda mas o governo do estado jamais o fez funcionar com toda a capacidade proposta inicialmente. Isso explica pelo menos parte desta fila tão longa de pacientes, que não anda.
E se um problema é de urgência mas não consegue solução porque não é emergência e não implica em risco de morte, o passar dos anos sem esta solução se encarregará de transformar a urgência em emergência. Aí talvez seja tarde demais para salvar mais uma vida.
Faz tempo que circula entre jornalistas a hipótese de José Ronaldo ser candidato a governador da Bahia.
Seja aliado a ACM Neto, seja aliado a Otto Alencar.
Quando jornalista fala essas coisas de que “ouviu dizer” é porque tem político “plantando” a notícia.
Agora Targino Machado surge de público já declarando apoio a uma eventual candidatura do prefeito de Feira de Santana.
Essas especulações são uma excelente maneira de intrigar José Ronaldo com o candidato preferencial da oposição, ACM Neto.
Pedro Lucas dos Santos Suzart tem cinco anos e luta pela vida desde quando ainda era um feto. Nasceu prematuro ao extremo. Cinco meses nas contas da mãe; seis, segundo os médicos disseram após o parto.
A mãe, Verônica Trindade dos Santos, dona de casa, tem anemia falciforme, o que complicou a gravidez. Moradora do distrito de Humildes, foi ter o filho em Salvador, no Hospital Roberto Santos, já que ambos corriam risco mas os médicos apostavam principalmente nas chances da mãe.
Os dois sobreviveram, mas a criança nasceu sem o ânus. No terceiro dia de vida precisou de uma colostomia, uma cirurgia que abre uma passagem no abdômen, que permanece aberta, para que as fezes possam ser eliminadas.
Por meio de uma nova cirurgia, é possível construir no organismo a passagem natural que devolveria ao menino as condições para que ele tenha uma vida normal.
Acontece que Pedro está na fila do SUS (Sistema Único de Saúde). Quando nasceu, a prematuridade impôs quase cinco meses de internação até que pudesse voltar para casa. Após a alta, os médicos do Roberto Santos então encaminharam a mãe para o Hospital Estadual da Criança em Feira de Santana.
Passaram-se cinco anos, entre consultas, exames e tentativas de entregar os resultados para encaminhar a cirurgia. A mãe, Verônica, teve a primeira consulta com a médica Maria Lúcia da Silva Augusto e realizou no próprio Hospital Estadual da Criança os exames solicitados.
Ela conta que não conseguiu entregar os resultados dentro do prazo, porque o atendimento pelo telefone do hospital, obrigatório para a marcação de consulta, não funciona.
Quando tornou a ver a médica, os exames não tinham mais validade. A profissional então recomendou uma biópsia que deveria ter um resultado dentro de 30 dias. O prazo se esgotou sem que a mãe conseguisse agendar a biópsia.
Em suas andanças em busca de solução para o filho, ela já recebeu de uma atendente do HEC a informação de que Pedro está atrás de mais de 400 pacientes em uma lista de espera.
Alérgico, Pedro não pode sequer usar a bolsa de colostomia. Cobre o buraco na barriga com gaze. O mau cheiro das fezes afasta quem não é de casa. Segundo a mãe, se ele usasse uma bolsa, a limpeza seria de duas em duas horas. Nas condições em que Pedro vive, a limpeza tem que ser constante. Isso fere a pele do menino, provoca irritação e dor.
O processo para a cirurgia continua praticamente na estaca zero. A dificuldade aumenta ainda mais porque a doença falciforme de Verônica tem se agravado nos últimos três anos. As internações são frequentes. Ela contabiliza 18 passagens pelo Hospital Dom Pedro no ano de 2016. Na última, em dezembro, passou 22 dias internada. Quando ela não pode cuidar do menino, ele fica na casa da mãe.
Pedro vai crescendo sem muita chance de convívio social, devido ao problema de saúde. Tem como únicos companheiros de brincadeira as crianças que convivem com ele em família, os primos.
RESPOSTA DO HEC
Procurada pela reportagem da Tribuna Feirense, a direção do Hospital Estadual da Criança enviou a resposta que reproduzimos na íntegra: “O paciente Pedro Lucas dos Santos Suzart, 5 anos, vem sendo acompanhado na unidade hospitalar e inclusive seu último atendimento no HEC ocorreu em novembro de 2016. A unidade hospitalar possui uma vasta lista de pacientes na fila de espera para realização de cirurgias, isso porque atende uma demanda muito grande, de mais de 70 municípios do Estado. A equipe do Centro Cirúrgico do HEC já tem conhecimento do caso e está empenhada para resolvê-lo em breve”.